A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia defendeu uma ação permanente em defesa da igualdade de gênero. Ao lado da presidenta da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), Betânia Lemos, e da ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, Cármen Lúcia ministrou a aula de encerramento do Curso Comunicação e Negociação para Prefeitas, oferecido pela Diretoria de Educação Executiva (DEX). A exposição dela foi baseada em três pilares: democracia e igualdade; a igualdade e a participação de todos (principalmente das mulheres) no processo político; e os desafios em ano eleitoral. A diretora de educação executiva, Iara Cristina da Silva Alves, mediou o ato de encerramento do curso.
Ao falar na perspectiva das diferenças que existem até mesmo entre mulheres, no que diz respeito a oportunidades, a ministra do STF defendeu uma ação permanente para que todas possam ter assegurados seus direitos. “A igualdade entre mulheres brancas e negras é diferente”, afirmou ela. “A ação pela igualdade é uma ação permanente para que todas nós tenhamos as mesmas oportunidades de realizar nossos talentos e nossas vocações. Sermos o que quisermos ser. Então, a luta ainda é enorme, está presente. Ela é permanente. Ela há de ser um compromisso, uma responsabilidade e, especialmente, uma ação pela igualdade de todas”, disse Cármen.
A ministra do STF sugeriu que a única forma de mudar a cultura que classificou como “sexista, preconceituosa, machista e misógina” é ampliar a presença feminina nos espaços de poder. “A mulher tem de estar nos cargos, exercendo as funções e, portanto, superando isso. Não é para mostrar a alguém, mas para demonstrar a si que ela é igual naquilo que precisa ser igualado e tem o direito de ser diferente naquilo que ela é diferente”, afirmou.
Cármen falou ainda como as fakenews afetam de maneira diferente a homens e mulheres. O fenômeno tem sido um bastante comum durante processos eleitorais. “O chamado discurso de ódio não é igual para homens e mulheres. Quem é da política conhece bem isso. Posso falar de cátedra porque já fui alvo. O discurso contra o homem é porque ele é ‘autoritário’, ‘tirano’ ou alguma coisa ética. O discurso contra a mulher é sexista. Todo o tipo de situação para desmoralizar ligando a sexo. A apresentação, a compostura, a forma de atuar. Todas as desqualificações possíveis. Isso gera temor e, em certos casos, medo”, declarou a ministra do STF.
Cármen destacou a importância da iniciativa da Enap, por meio da DEX, em oferecer o Curso Comunicação e Negociação para Prefeitas. “Temos um curso como este, da Enap, que é uma grande dádiva para que haja ótimas gestoras, habilitadas e com segurança. Algumas mulheres, às vezes, têm liderança no município, mas tem uma certa insegurança com a política. Cursos como esse e a educação (em geral) são formas de superar isso. Temos um grande desafio”, assinalou ela.
Resistência
A presidenta da Enap defendeu que a participação das mulheres em espaços de poder é uma forma de resistência de todas. “Também é uma forma de dizermos para esta geração e para as futuras que esses espaços são para todas nós mulheres. Onde quisermos estar, estaremos. Ocupando espaços de poder mesmo que, para isso, precisemos enfrentar uma série de situações e mostrar a nossa resistência e a nossa resiliência. Espero que esse curso tenha alcançado seu propósito de ser um espaço de acolhimento, de troca, de luta e de fortalecimento de uma rede de mulheres que se apoia na política”, disse Betânia.
A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos salientou que sua gestão tem um compromisso muito forte para o combate à misoginia, à violência política contra as mulheres e à desinformação de gênero. “(Essas coisas) desencorajam muitas vezes as mulheres a ingressarem e permanecerem na vida pública, reduzindo ainda mais a pouca diversidade que temos na nossa representatividade, comprometendo clara e diretamente a nossa democracia”, apontou Esther Dweck.
Ela apresentou alguns dados que demonstram a desigualdade entre homens e mulheres na política e falou sobre formas de violência contra elas. “Essa maneira de atacar as mulheres é uma estratégia para desencorajá-las a entrar na vida pública. Se entrarem, para que saiam. É uma disputa muito concreta, simbólica e de comunicação. É necessário que tenhamos instrumentos para fortalecer nossa democracia. Para termos uma sociedade mais justa, solidária e desenvolvida, precisamos enfrentar nossas desigualdades de gênero, de raça, social e a interseccionalidade entre essas coisas”, afirmou Esther.
A diretora e cofundadora do Instituto Alziras, Marina Barros, participou da aula de encerramento. O instituto foi parceiro da Enap no Curso Comunicação e Negociação para Prefeitas. “É de extrema importância que a gente continue lutando para ampliar o acesso das mulheres na política. A permanência nesses espaços, livre de violência e assédio. Pensar também na ascensão da carreira política dessas mulheres e acho que este curso contribui enormemente neste aspecto. Que o Brasil alcance de fato a paridade de gênero na política para que tenhamos a conquista de uma democracia efetivamente representativa e paritária”, disse ela.