A transformação digital de governos ainda é um desafio em muitos países. Para auxiliar lideranças na transformação do analógico para o digital, o FronTend do último dia 7 trouxe Alexis Wichowski, vice-diretora de tecnologia para inovação da cidade de Nova York. Professora de governo, mídia e tecnologia na Escola de Relações Internacionais e Públicas da Universidade de Columbia (EUA), Alexis conversou com Tiago Peixoto, especialista sênior em governança do Banco Mundial, sobre como evitar o “vale do desespero” – aqueles pontos críticos – e navegar na transformação digital nos governos.
A transformação digital, defende Alexis, envolve uma significativa mudança de cultura e, por isso, pode levar ao que ela denominou como vale do desespero. Ela aponta que há várias coisas envolvidas ao se discutir o tema, a começar pela própria forma como os seres humanos abordam mudanças e como isso se transforma quando abordamos mudanças no governo. “Nós queremos ver mudanças no mundo e há muitos obstáculos. A questão-chave é como navegar em qualquer tipo de mudança,” afirmou.
A vice-diretora partiu de um artigo publicado por dois psicólogos e adaptou para a realidade da transformação em governos. “Era um jeito de explicar como as pessoas experienciam mudança emocional, mas que também se aplica a mudanças digitais,” explica Alexis. O processo envolve cinco etapas:
- Otimismo desinformado, ou seja, neste primeiro momento realmente não se sabe muito sobre o empreendimento, mas existe a esperança de que será um sucesso;
- Pessimismo informado: Quanto mais aprendemos sobre o trabalho que está a frente de nós, começamos a nos sentir um pouco abatidos, talvez pela quantidade de mudanças que teremos que fazer;
- Vale do desespero: Depois de começar um novo projeto, aprender sobre o quanto é necessário para que ele seja feito, você então sente que não existe um jeito de fazer isso acontecer. É muito fácil nesse ponto simplesmente abandonar a ideia e começar algo novo com um novo assunto. Apenas abandonar todo o projeto;
- Otimismo informado: Se você insistir por esse vale do desespero você prossegue a um estágio ao qual eles chamam de otimismo informado. Agora você sabe quais são os obstáculos que deve encarar mas não deixa que eles te parem. Você tem um plano de como lidar com os obstáculos e você vai insistir;
- Sucesso: A insistência te leva te leva ao estágio final, de algum tipo de sucesso.
Alexis destacou três tipos de pressões que governos costumam se deparar:
- desafio das licitações: como ter certeza de que o governo não está participando apenas de projetos com a participação de grandes figuras apenas porque eles têm mais influência?;
- pressão política e o medo de ser culpado por algo que deu errado; e
- a necessidade de ver o sucesso imediatamente.
Segundo defende, isso reforça a necessidade de criar programas de proteção – que são especificamente dedicados a programas de experimentação que podem ajudar a evitar tais tipos de pressão no setor público.
Alexis ressaltou, no entanto, a importância da inclusão digital baseada em uma grande parcela da população que ainda não possui acesso a celulares e muito menos à internet. “Conexões digitais não são suficientes, também precisamos de inclusão digital, que significa ter certeza que as pessoas entendem as capacidades das diferentes tecnologias que estão à sua disposição.”
Confira abaixo os principais pontos da conversa entre Tiago Peixoto e Alexis Wichowski e assista à entrevista completa no canal do YouTube da Enap na versão original em inglês e na versão em português.
- Como navegar na transformação digital em governos
- Como trazer agilidade na prática para o trabalho no setor público
- A importância de colocar pessoas em posição de liderança
- Como manter competição com o setor privado para trazer as pessoas mais qualificadas no trabalho para ajudar a fazer a transformação digital no governo
- Transformação digital não é só digitalização mas uma mudança de cultura
- A importância de criar uma cultura de testar produtos antes de se produzir em larga escala
- A diferença entre o vale do desespero a nível nacional e a nível subnacional (local)
- Tecnologias cívicas e a democracia participativa, a importância das parcerias
- Mudança na competitividade de mercado a partir dos tipos de ofertas do governo que podem ajudar a servir mais pessoas
- Os diplomatas digitais