Rainer Kattel explicou que este é um momento de adaptação, mas também de perseverança, para que seja possível avançar nessa interação

Em 2024, a Enap e o MGI estão implementando uma parceria com o Instituto para Inovação e Propósito Público (IIPP) da University College London, com o objetivo de trazer para a Administração Pública Brasileira o que há de mais recente na discussão sobre o novo pensamento econômico, as capacidades dinâmicas, as políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável e o novo papel do Estado. E para marcar o início das atividades de formação que serão realizadas ao longo do ano, a Escola e parceiros promoveram, nesta terça-feira (26/03), palestra com o professor e autor do livro  “How to Make an Entrepreneurial State: Why Innovation needs Bureaucracy” (“Como construir um Estado Empreendedor: Por que a Inovação precisa da Burocracia”), Rainer Kattel. 

Fotos do evento

No encontro, o especialista apresentou os argumentos centrais desenvolvidos por ele em sua obra. “Inovação significa um fenômeno político. Significa também que precisamos ter a capacidade de mudar a direção e entender como trabalhar em conjunto com o setor privado pois, neste processo, todos os atores são importantes”, aconselhou. 

Para Rainer Kattel os servidores públicos vivem um constante paradoxo: ao mesmo tempo que precisam oferecer o serviço básico, precisam melhorá-los. Em sua narrativa, o autor provocou os participantes: “Mas como saber se as políticas introduzidas nos serviços estão funcionando?” Para ele, talvez os servidores sequer estejam engajados e, apenas especialistas conseguem fazer essa leitura. “Por isso, precisamos tornar isso acessível. Na maioria das vezes, não sabemos qual é o impacto das políticas. Então, existe uma lacuna sobre o que acontece também na inovação. Os servidores são bons para avaliarem os problemas, mas não têm habilidade para começar a mudar. A ideia do livro é a estabilidade ágil, ou seja, cuidar para que os serviços e seus resultados sejam afetivos, novos e ágeis. Precisamos ajustar os paradoxos. A inovação é essencial, mas igualmente, a execução e constância”, explicou.

O autor apontou que existem dois tipos de organizações: as do tipo ativista, que têm financiamento para executar suas necessidades. Elas começam com o trabalho ousado, como um leão, e com a experiência de uma criança. Trabalham a longo prazo e aprendem. O outro tipo são as organizações “hackers”, que trabalham em áreas onde muitas pessoas são impactadas, como na área digital. Um exemplo é o sistema de imigração baseado em pontos do Reino Unido (gov.uk), que unificou todos os serviços públicos em uma só plataforma. Tudo isso, criado em menos de 3 meses. Embora os idealizadores ainda estejam focados em aprender com os acertos e com os erros, milhões de pessoas já usam o serviço. “Então, foi criado um estilo bom e barato e que trouxe legitimidade para criar outras plataformas. O que vemos é que as “novas agências (setor privado)”, trazem estabilidade para serviços de longo prazo (nos órgãos públicos). É preciso novas políticas para aprendermos a partir delas”, constatou.

Em sua obra, Rainer Kattel explora as bases históricas e teóricas do papel do Estado em promover a inovação e o desenvolvimento produtivo. Ao adotar uma visão schumpeteriana do conceito, o livro destaca o delicado equilíbrio entre estabilidade e agilidade necessário para que as burocracias públicas apoiem o setor privado e transformem com sucesso os modelos nacionais de desenvolvimento, aprofunda a discussão do papel do Estado para o desenvolvimento econômico e participa, de forma privilegiada, do debate sobre Estados desenvolvimentistas e empreendedores.

“Todas as Administrações Públicas são capazes de mudar e aprender. É preciso fazer experimentos e adquirir uma habilidade prática e ainda, pensar na capacidade dos órgãos públicos e organizações para interação. É trabalhar de uma forma múltipla”, finalizou.

Participação do público

A palestra teve abertura com a secretária adjunta da Secretaria Extraordinária para a Transformação do Estado-SETE/MGI, Celina Pereira, mediação e debate do diretor de Altos Estudos da Enap e doutor e professor do Mestrado Profissional em Governança e Desenvolvimento da Enap, Alexandre de Ávila Gomide. Em suas considerações, Gomide destacou a resenha que escreveu a partir do livro de Kattel. 

“O livro faz uma crítica, denunciando que a gestão pública, o gerencialismo, não entrega a agilidade e habilidade que são desejadas. Isso porque, o gerencialismo na gestão pública pensa em inovação e resultado a curto prazo, além de ser anti burocracia. Então, a obra aborda uma agilidade diferente, é como se fosse um pós-gerenciamento. Vamos pensar em agilidade e inovação resgatando o papel do servidor e da burocracia, sem jogar fora o papel estabilizador do serviço público”, apontou. Rainer Kattel complementou a fala de Gomide enfatizando que a burocracia é uma ferramenta contra o extremismo e é importante construir a inovação a partir disso.

Sobre a obra de Rainer Kattel 

O livro “How to Make an Entrepreneurial State: Why Innovation needs Bureaucracy” (“Como construir um Estado Empreendedor: Por que a Inovação precisa da Burocracia”), de Rainer Kattel, foi o ganhador do prêmio George R. Terry da Academy of Management de 2023 e faz um relato inovador que mostra como o setor público deve se adaptar, mas também perseverar, para avançar na tecnologia e na inovação.  A obra, também desenvolvida pelos professores Wolfgang Drechsler e Erkki Karo, trabalha o conceito de "burocracias de inovação", ou seja, organizações públicas que promovem a inovação ao criar, financiar, regular mercados e usar compras públicas. Assim, desafia a noção predominante de que inovação e burocracia são um oximoro. O livro será traduzido em português, pela Enap, e estará disponível de graça a partir do mês de novembro

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