Você já conhece o conceito de feira reversa? Foi o primeiro evento da Semana da Inovação 2020, antes mesmo da abertura oficial do evento. A propósito, você já ouviu falar de logística reversa, mas já conhecia o conceito de feira reversa? Ela segue uma lógica diferente da feira convencional. Em vez de parceiros e fornecedores apresentarem ao governo soluções para atender suas diferentes demandas, gestores públicos identificam seus principais desafios e compartilham na “feira de reversa” com o objetivo de coletar das empresas soluções existentes no mercado.
Foi isto que aconteceu na manhã de 16 de novembro, em um evento que conectou desafios públicos com soluções tecnológicas. Sete parceiros patrocinadores da Semana de Inovação – Dataprev, IBM, Oracle, Serpro, Sebrae, Microsoft e Banco do Brasil – reuniram-se com representantes de órgãos públicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Ministério da Economia (ME), que mapearam desafios públicos prementes a solucionar.
A partir da Feira Reversa, foram agendadas dez reuniões entre gestores públicos e representantes das empresas para aprofundar os desafios em busca de soluções inovadoras para o serviço público.
Pequenos consertos e gambiarras aumentam riscos de crises
O momento para fazer o encontro entre soluções e problemas, das dores do setor público com as soluções de parceiros foi destacado pelo presidente da Enap, Diogo Costa. Ele citou Steven Teles, professor da John Hopkins University, que usou o termo “cloudcracias” para definir o que viraram várias burocracias pelo mundo. “Refere-se a pequenos consertos que você faz em um código, as famosas gambiarras. Soluções temporárias feitas para resolver um problema específico, mas que se tornam permanentes, aumentam a complexidade do problema, porque não alcançam suas raízes. Conforme esse monte de “patchesinhos” vão sendo colocados no lugar, o código como um todo se torna cada vez mais complexo, difícil de organizar e entender, porque falta um princípio organizacional”.
Por consequência, afirmou Diogo, aumentam os riscos de crashes. “E o governo funciona assim, de pequenas soluções que são ad hock. Então o governo precisa fazer essa reflexão para ter soluções que reduzam a complexidade e sejam efetivas de fato”, finalizou Diogo Costa na fala de abertura da Feira Reversa.
Implementar novos projetos é um desafio por si
Para Luis Felipe Monteiro, secretário de Governo Digital do Ministério da Economia, a maioria dos problemas e dificuldades no setor público acontece mais em função dos arranjos institucionais que impactam na implementação e execução dos projetos. “A gente encontra rapidamente soluções de planejamento e arquitetura, nossas apresentações ficam claras e objetivas, mas na hora de implementar estas tecnologias as dificuldades são enormes. Isto vale para os participantes de governo, usuários e cidadãos. Somos muito influenciados pelo tamanho desse Brasil, que é bonito, com uma cultura incrível, mas a extensão também agrega complexidade”, afirmou.
A ideia de realizar uma feira reversa durante a Semana de Inovação parte da premissa de promover a inovação e cocriação no setor público. “Empresas públicas e privadas têm ideias de como resolver ou mitigar os riscos destes projetos. A Feira Reversa é a abertura de uma conversa que vai gerar frutos à medida que a implementação de soluções aconteça”, afirmou Luis Felipe.
Na curadoria de problemas foram elencados cinco desafios, quatro dos quais apresentados pela Secretaria de Governo Digital do Ministério da Economia. Um deles veio do Mapa.
Conheça os desafios na área de tecnologia
Desafio 1 - Sistema de Monitoramento de Aeronaves Agrícolas.
Necessidade de ferramenta automatizada para captar os dados das operações aeroagrícolas extraídos de equipamentos embarcados, sistematizando-os de modo que possam ser acessados e geridos pelos órgãos de fiscalização a qualquer tempo. Um dos aspectos da complexidade do problema está relacionado ao monitoramento em um país com a extensão do Brasil. Desafio apresentado por Bruno Cavalheiro Breitenbach, coordenador-geral de Agrotóxicos e Afins do Mapa.
Desafio 2 - De onboarding a id digital
Necessidade de melhorar o processo de identificação digital para acesso a serviços públicos digitais, garantindo maior segurança, ao mesmo tempo sendo um processo fácil e intuitivo para o cidadão. Dentre as complexidades relacionadas está o desafio de como levar 210 milhões de brasileiros, ou pelos menos 136 milhões de usuários de internet no Brasil a fazerem adesão a uma identidade digital. Apresentado por Sandro Furtado Cargo, assessor técnico da Secretaria de Governo Digital
Desafio 3 - Domicílio eletrônico com controle de notificação
Necessidade de dispor de uma caixa postal como plataforma tecnológica para receber e armazenar as notificações e comunicações digitais dirigidas às pessoas físicas e jurídicas, incluindo a ciência das notificações e integrada ao login único. A caixa postal deve garantir o sigilo, a identificação, a autenticidade e a integridade das comunicações. Busca-se ganho de eficiência na comunicação de forma clara, precisa e universal com todos os brasileiros. Apresentado por Gustavo Henrique Orair, coordenador de Plataformas da Secretaria de Governo Digital
Desafio 4 - Apresentação de serviços personalizados para os usuários do portal gov.Br.
Solução (ferramenta e metodologia) para apresentação personalizada/contextualizada do conteúdo do portal gov.br (notícias e serviços) com base no comportamento de navegação e perfil dos usuários. O GovBr reúne as informações, notícias e serviços públicos de todo o governo federal e já é a principal central de serviços do governo federal, sendo acessado por mais de 20 milhões de brasileiros todos os meses. Apresentado por Joelson Vellozo Jr, diretor de Experiência do Usuário de Serviços Públicos na Secretaria de Governo Digital
Desafio 5 - Solução de identificação de incidentes de segurança e vazamentos de informação na web e deep web
Dispor de ferramenta automatizada que possa captar os dados dos incidentes que foram reportados na web e na deep web, e, utilizando-se de recursos de inteligência artificial, possa agrupar e classificar os incidentes de segurança e vazamentos de dados, de modo que os órgãos possam planejar suas ações de maneira cada vez mais proativa. Apresentado por Mauro Cesar Sobrinho, diretor de Governança de Dados e Informações da Secretaria de Governo Digital