Economista marcou a celebração dos vencedores do Prêmio Tesouro Nacional de 2021; seis trabalhos foram premiados

Celebrando mais um Prêmio Tesouro Nacional, o convidado ilustre da cerimônia de premiação dos seis vencedores da edição deste ano foi o economista John Cochrane, fellow do Hoover Institution/Stanford University, que debateu sobre os desafios fiscais e monetários trazidos pelo ressurgimento da inflação nos Estados Unidos durante a pandemia. “Por que isso está acontecendo? Será que vai continuar assim? É uma pergunta de um milhão de dólares”, desafiou Cochrane, que já esteve no Fronteiras e Tendências em outubro de 2021. Neste ano, a inflação nos Estados Unidos registrou a maior alta em 31 anos. 

Para Cochrane, a crise trazida pela pandemia trouxe desafios e comprimiu o cenário fiscal em muitos países. “O gasto e a receita não estavam mais igualitários”, afirma. Dentre as possíveis razões disto ter acontecido nos Estados Unidos, ele sinaliza a possibilidade de ter tido um diagnóstico incorreto. Em 2008, o governo norte-americano concedeu incentivos fiscais para estimular a economia, com o compromisso “estímulo hoje, mas sobriedade no futuro”. Durante a pandemia, os EUA aprovaram um pacote de estímulos para medidas de auxílio contra a crise causada pela pandemia. “Uma crise sempre traz um resultado deficitário. Agora, durante a Covid, do ponto de vista econômico, foi uma tempestade. Nosso governo pensou em um estímulo para fazer com que a economia rodasse, e isso pode ser um problema se há inflação”, explica. 

 

A inflação irá continuar?

Para o economista, fazer predições é difícil. “Na minha pesquisa, 25% de dívida em relação ao PIB é uma fórmula inflacionária que recai sobre os contribuintes”, afirmou. Segundo ele, as causas podem ser o aumento no custo das moradias e a crise de suprimentos. “Há a taxa de inflação acumulada de 10%, mas momentânea. A cada década parece surgir uma crise, e qualquer nova crise vai levar em conta a questão fiscal. As pessoas podem dizer que isso foi em um momento ruim da pandemia, que vamos resolver o problema, não surgirá inflação e que voltaremos à normalidade anterior”.

O papel do FED (banco central americano) durante a pandemia foi mais detidamente analisado por Cochrane. “Essa inflação pegou o FED de surpresa, foi uma questão institucional. A função do FED é avaliar a capacidade monetária para atender às demandas. Não há desculpas para questões transitórias”, apontou. “O que passa na mente do FED? Bancos centrais e outras instituições, menos em Washington, mas em outros locais americanos, estão sofrendo muita pressão, levando em conta as mudanças climáticas, as desigualdades sociais e a questão de raça. Isso elimina qualquer  pensamento de que estão prontos para enfrentar qualquer crise que surja ou que possa colocar em perigo a economia”, afirma. 

Cochrane disse que a inflação chegou, mesmo com a estratégia do banco central de construir linhas marginais para combatê-la. Ele avalia que a estratégia envolve as políticas monetárias e há uma ênfase no crescimento inclusivo, em diminuir o desemprego, deixando a inflação liberada por um tempo, mas esta é uma conversa da década de 60. “Isso diz que vamos esperar a inflação antes de fazer qualquer coisa e não fazer nada, como alguns partidos estão falando, e colocar mais e mais dinheiro na economia?, questiona John. E acrescenta que agora estão falando sobre retrocessos, em preencher todos aqueles vales econômicos. “Isso é conversa da década de 60. Mas o que aprendemos na década de 70 sobre a inflação foi muito importante”, avaliou.  

O economista traçou alguns cenários para os próximos dez anos, pois acredita que haverá inflação no período, a exemplo de décadas anteriores. Ele questiona se o banco central poderá aumentar a taxa de juros quando o momento chegar. Argumenta que para juros mais altos e menor inflação deve haver aperto fiscal. Se a inflação ficar fora de controle o FED vai perder. E quando há uma perda de confiança no FED, há realmente um aumento da inflação. “A ancoragem das expectativas vem da crença de que o governo pode repetir 1980-1986, se necessário. Quando a confiança evapora, a inflação chega”, disse o palestrante. Para ele, a estabilização bem-sucedida combina reformas monetárias, fiscais e microeconômicas, como aconteceu nos EUA e na América Latina, inclusive no Brasil, na década de 1980. 

A conversa com Cochrane foi intermediada por Otávio Ladeira de Medeiros, subsecretário da Dívida Pública no Ministério da Economia. O Prêmio Tesouro Nacional já trouxe nomes como Andrés Velasco (2020) e o economista Alberto Alesina (2019), falecido em 2020.

Conheça os vencedores do Prêmio Tesouro Nacional

Promovido pela Secretaria do Tesouro Nacional, com patrocínio da FGV e apoio do BID e da Enap, o Prêmio Tesouro Nacional comemora neste ano sua 26ª edição, com a finalidade de expandir as fronteiras do conhecimento em finanças públicas e aprimorar a gestão das finanças do Estado. A cerimônia virtual de premiação dos seis vencedores contou com a participação do ministro da Economia, Paulo Guedes, do secretário especial de Tesouro e Orçamento, Esteves Colnago, de  representantes de instituições parceiras e outras autoridades do Ministério da Economia.  

Durante a abertura, o ministro da Economia, Paulo Guedes, parabenizou os vencedores e as equipes envolvidas e destacou a atuação brasileira na condução da política fiscal. “Derrubamos e recontrolamos a trajetória futura dos gastos com a Previdência, depois com o endividamento em bola de neve, com os gastos com o salário do funcionalismo, que também estava fora de controle”, explica.“É o fiscal que dirige todo o processo”, afirmou o ministro. 

Para o presidente da Enap, Diogo Costa, o prêmio reúne tradição, por ser uma premiação com prestígio, e avanço, ao estimular a produção científica e o desenvolvimento de soluções que envolvem dados e inteligência artificial. “Vemos a importância de dados para a tomada de decisões”, conclui. 

Premiados
1° colocado na categoria monografias - Alessandro Ribeiro de Carvalho Casalecchi

O artigo Impacto de medidas de gestão de pessoas sobre as despesas com pessoal prertende dar uma contribuição ao debate da reforma administrativa no contexto do envio da PEC sobre o assunto no final de 2020. O trabalho trata do alongamento de carreiras, da redução do salário de entrada nas carreiras e a redução da taxa de reposição dos servidores que se aposentam. O resultado foi uma economia em um período de 10 anos (2022 a 2031) de algumas dezenas de bilhões. Somando União e estados, é um total de 128 bilhões de reais. Alessandro Casalecchi diz que o trabalho foi feito no contexto de uma instituição independente onde atua. “Isto não significa que outros aspectos da gestão de pessoas não sejam importantes. Sabemos que há uma diversidade do ciclo laboral do servidor que deve ser levada em conta no tratamento da questão. Foi uma alegria para mim receber esse prêmio e também para a instituição indepedente do Senado”, afirmou o autor.

Categoria: Monografias

1° lugar

Impacto de medidas de gestão de pessoas sobre as despesas com pessoal

Alessandro Ribeiro de Carvalho Casalecchi – DF

2° lugar

Situação fiscal local e a resposta à pandemia da Covid-19: evidências para os municípios brasileiros

Rafael Barros Barbosa, Gerrio dos Santos Barbosa, Glauber Marques Nojosa e Daniel Tomaz de Souza - CE

3º lugar

Uma  avaliação econômica do Prouni contrastando a massa salarial dos egressos com o gasto tributário do programa

Vinicius Augusto Lima de Almeida e Frances Carlo Petterini Lourenço - DF

Menção honrosa 1

Subsídio às fiscalizações públicas: identificação dos municípios com gastos discrepantes na educação básica

Renata Guanaes Machado - DF

Menção honrosa 2

Gestão de risco ambiental das reservas internacionais: uma discussão aplicada com os bancos centrais da América Latina e do Caribe

Viviane Helena Torinelli, Antônio Francisco de Almeida da Silva Júnior, José Célio Silveira Andrade e Serafin Martinez Jaramillo - BA

Categoria: Soluções

1° colocado na categoria soluções - Matheus Avila Amaral de Souza e Ricardo Dahis

Base da dados é uma instituição sem fins lucrativos que trabalha pela democracia dos dados e ciência de dados no Brasil. Base de Dados é também uma plataforma com diversas bases de dados abertos, com tabelas tratadas, onde o pesquisador pode utilizar as linguages de sua preferência (Python, R, SQL). “Temos centenas de bases de dados mapeadas, diversos conjuntos de tabelas tratadas, intercambiáveis, que podem ser utilizadas de forma gratuita. Há detalhamento de dados do Ministério da Economia, IBGE, IPEA e diversas possibilidades de análise. Pode ser usado para jornalismo científico, políticas públicas e trabalhos acadêmicos. É público e gratuito”, disse Matheus Amaral.

1° lugar

Base de dados 

Matheus Avila Amaral de Souza e Ricardo Dahis



Premiações

Os autores das três melhores monografias são premiados com a quantia de R$ 20mil, R$10 mil e R$5 mil, respectivamente. Os vencedores e as menções honrosas também receberão certificado de participação e terão seus trabalhos publicados em edição especial da Revista Cadernos de Finanças Públicas, do Tesouro Nacional.

Os autores da categoria soluções recebem R$ 6 mil e também terão seu trabalho publicado.

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