No segundo dia da Semana de Inovação 2020, especialistas discutiram caminhos para o setor público e defenderam soluções como a busca de um “propósito comum” e a concessão de mais poder aos indivíduos para tomar decisões

 

A pandemia do coronavírus colocou uma série de questões sobre a atuação de governos e suas populações. Países bem equipados em termos tecnológicos e médicos enfrentaram crises profundas, como foi o caso dos Estados Unidos e da Inglaterra. Outras nações como a Nova Zelândia e a Dinamarca surpreenderam ao inovar e valorizar o trabalho de coordenação do setor público com a sociedade. Dessa maneira, a Covid-19 estimulou o mundo todo a repensar a atuação de seus serviços públicos. 

Foi com esse horizonte que a Semana de Inovação 2020 reuniu na manhã desta terça-feira quatro renomados economistas para um debate virtual: Paul Collier, David D. Friedman, Ngaire Woods e Caetano Penna. A discussão mostrou pontos de vista divergentes sobre o tema proposta para o encontro, “(Re)Imaginando o Governo para os Desafios do Mundo Contemporâneo”. Houve uma defesa de soluções como a busca de “propósito comum” para a sociedade e a concessão de mais poder aos indivíduos para tomar decisões. 

“O capitalismo produz contrastes, e as pessoas têm seus próprios interesses. Mas no longo prazo o melhor é encontrar um ´propósito comum´ da sociedade”, afirmou Collier, que leciona e é pesquisador da Universidade de Oxford na Inglaterra. Ele se diz preocupado com a polarização política em vários países, com o desmonte da ideia de que exista um “interesse comum” de uma nação. Porém a Covid-19, segundo o economista, trouxe exemplos que surpreendem positivamente. 

“A primeira-ministra da Nova Zelândia fala que tem uma equipe de cinco milhões de pessoas [a população do país]. É um exemplo de sociedade do ´nós´ e não do ´eu´”, assinalou Collier, ressaltando o desempenho da Dinamarca no combate à pandemia. “Líderes são confiáveis quando escutam a população. Eles não devem ser ´líderes em chefe´, mas sim ´comunicadores em chefe´. O propósito comum é a possibilidade de dialogar com as pessoas. Não são ordens que vêm de cima para baixo ou um concurso de gritaria, de quem fala mais alto.”

Menos governo 

Expoente do pensamento liberal, o economista David D. Friedman discorda de ideias que tentam dar maior peso ao setor público na definição dos rumos de um país. “O que se deve fazer no futuro é reduzir o poder dos governos e colocar as decisões nas mãos dos agentes privados”, afirmou o autor do livro “The machinery of freedom”. “Os governos não resolvem os problemas de interesse comum das pessoas. Os Estados Unidos, por exemplo, têm um governo que interfere na vida das pessoas.” 

Friedman deu dois exemplos de como governos podem estar aparentemente em busca do “propósito comum”, mas na verdade prejudicam as pessoas no dia a dia. O primeiro seria a regulação imposta pelas agências governamentais dos Estados Unidos durante a pandemia da Covid-19, principalmente nos testes de vacinas. Para Friedman, o resultado foi que os testes de imunizantes estão em ritmo lento por conta da FDA (Food e Drug Administration, que autoriza ou não o uso de medicamentos). 

Na questão da Covid, ressaltou o economista, o governo dos Estados Unidos poderia inovar, por exemplo, ao conceder um certificado ou atestado para as pessoas que já contraíram a doença e estão hoje imunes. A medida teria impactos positivos em certos segmentos da economia que sofrem mais com as medidas de isolamento social. Segundo Friedman, os restaurantes poderiam assim contratar garçons já imunes e garantir que os clientes não serão infectados. 

Na visão de Friedman, o segundo ponto crítico dos governos é o uso de dados privados da internet sob o pretexto de combate ao terrorismo. Anos atrás, os Estado Unidos tiveram de reconhecer que sua agência NSA capturou um volume grande de mensagens eletrônicas – o caso Edward Snowden. “Poderia ser criada uma chave pessoal, criptografada, que garantiria a privacidade das pessoas na internet. Mas os governos se opõem a isso e desencorajam a inciativa”, disse Friedman.

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