A Professora Maria José Esteves de Vasconcellos ministrou na ENAP um curso que compõe o conjunto de cursos da trilha de inovação.

Nesta edição do Enap Entrevista, trouxemos a professora, graduada e pós-graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais, que é a autora do livro “Pensamento Sistêmico. O novo paradigma da ciência”, atualmente em sua 11ª edição, inclusive com uma tradução para o inglês.

Esteves de Vasconcellos é pesquisadora e escritora e propõe considerarmos o Pensamento Sistêmico como o Novo Paradigma da Ciência. Em seu livro, apresenta o desenvolvimento do conhecimento científico, desde suas origens na Grécia antiga, até as recentes transformações – decorrentes dos desenvolvimentos dentro do próprio domínio linguístico da ciência – que estão dando origem ao novo paradigma da ciência. Tendo identificado três pressupostos epistemológicos constituintes do pensamento tradicional, ela distingue três novos pressupostos – que são sistêmicos – e que constituem esse novo paradigma emergente.

“Eu concebo o pensamento sistêmico como novo paradigma da ciência, e eu tomo a noção de paradigma como pressuposto, crença, premissa do cientista. Os cientistas vinham trabalhando tradicionalmente com os seguintes pressupostos: primeiro, o pressuposto da simplicidade do microscópico, que leva o cientista a separar o todo em partes e abordar as partes uma a uma. O segundo é o pressuposto de que o mundo é estável e de que ele pode ser descrito por princípios, ou leis, que descrevam essa estabilidade. E o terceiro pressuposto, que é a crença de que é possível a objetividade no conhecimento do mundo”, afirma a professora Esteves de Vasconcellos.

Seu livro tem recebido amplo reconhecimento da comunidade científica, inclusive já se tendo afirmado que nele, “a autora demonstra não só sua genuína compreensão do processo criativo dos que forjaram o pensamento sistêmico de nossa época, como também sua capacidade rara de interconectar modelos complexos numa trama coerente”.  Nessa entrevista ela fala também como essa nova visão de mundo, especialmente no seu aspecto de cocriação da realidade, pode mudar a forma de se fazer política pública e trazer inovação para o governo.

Confira: https://youtu.be/fmmpQ6vLbKI


O que é o pensamento sistêmico?

O pensamento sistêmico é uma nova forma de pensar, uma nova visão de mundo, que surgiu no século XX, e que se contrapõe ao pensamento "linear-reducionista-mecanicista" herdado de personagens da revolução científica do século XVII, como Descartes, Francis Bacon e Newton.

O pensamento sistêmico novo-paradigmático emerge no domínio linguístico da ciência, em decorrência de descobertas dos cientistas – na microfísica, na termodinâmica, na física quântica, na físico-química, na biologia experimental, na física cibernética, na biofísica - que os levaram a rever seus pressupostos epistemológicos.

Em suas pesquisas, os cientistas não encontraram nem simplicidade, nem ordem no mundo subatômico, assim como viram questionada também sua crença de que poderiam conhecer objetivamente as partículas subatômicas.  Daí decorreram, então: o reconhecimento da complexidade em todos os níveis da natureza; o reconhecimento da instabilidade do mundo, com as consequentes imprevisibilidade e incontrolabilidade dos fenômenos; e o reconhecimento da nossa impossibilidade – devida à estrutura biológica de seres vivos humanos – de falarmos objetivamente do mundo e a consequente e inevitável coconstrução do conhecimento.

Com a “visão sistêmica novo-paradigmática” – tendo assumido os novos pressupostos que a constituem – o profissional desenvolve práticas sistêmicas nos contextos em que atua, como implicação de sua nova visão do mundo – físico, biológico e social – em que vive. Focaliza sempre as relações entre os elementos componentes do sistema que distingue e também sua própria e inevitável relação com esse sistema. Cria contextos conversacionais – colaborativos e de autonomia - em que os participantes possam construir conjuntamente as soluções para as situações-problema, que eles mesmos tenham distinguido.