Em 2015, os estados-membros das Nações Unidas concordaram com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, com um apelo universal à ação para acabar com a pobreza e proteger o planeta. Mas hoje, na metade do caminho, o mundo não está em progresso para alcançar os objetivos da Agenda até 2023, segundo Relatório Global de Desenvolvimento Sustentável 2030 (GSDR 2030), lançado nesta quinta-feira (16/11), durante o Workshop Regional para a América Latina e Caribe, na Escola Nacional de Administração Pública (Enap). O evento foi realizado em parceria com a agência alemã GIZ e com o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (UNDesa).
Na solenidade, a presidente da instituição, Betânia Lemos, destacou o cenário de mudanças climáticas em que vive o Brasil, reforçando que há um descompasso entre o avanço social e o meio ambiente e que há pouca preocupação com o desenvolvimento sustentável. Betânia também afirmou a importância do workshop para o futuro, nos próximos 10 anos, fazendo referência, a partir deste relatório, às ações que impactam o mundo. “Hoje, estamos sentindo os primeiros efeitos de um crescimento que desconsiderou o meio ambiente”, disse.
O Relatório Global de Desenvolvimento Sustentável 2030 (GSDR 2030), intitulado “Tempos de Crise, Tempos de Mudança – ciência para acelerar transformações de desenvolvimento sustentável”, foi produzido por um grupo independente de cientistas e marca um momento de urgência climática e propõe caminhos em direção ao alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), projetando um futuro melhor para o planeta e ecossistemas.
Para a moderadora do Workshop e chefe do ramo de Análise Integrada de Políticas, Divisão para os ODS, ONU DESA, Astra Bonini, o mundo está em momento crítico e que todas as nações precisam trabalhar juntas de forma coesa. “O GSDR é um instrumento para traduzir os compromissos globais que fizemos. Nele, há dados, estatísticas, acesso à inovação e caminhos para superar os desafios. Astra Bonini também destacou que o GSDR representa uma chamada global à ação, à transformação do desenvolvimento sustentável e ensina como superar crises e analisar o futuro. “Queremos disseminar esses resultados e apoiar o Brasil nessa jornada. Utilizem o GRDS”, fez o convite.
De acordo com o relatório, os ODS representaram um avanço monumental, mas exigem determinação e esforço dos cidadãos de todos os países, responsabilidade partilhada de governos e solidariedade global.
Nesse contexto, o secretário executivo da Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Presidência da República, Sérgio Godoy, disse que o governo federal está enxergando os ODS como estratégias de busca para um novo modelo de desenvolvimento a ser construído a partir de um pacto social e nacional. “Precisamos envolver todos os setores da sociedade, promovendo o diálogo social e a mobilização do estado”, analisou. Sérgio Godoy apontou como metas a territorialização, para que os municípios e estados desenvolvam planos específicos para a pauta da Agenda 2030 e outras com vistas a contribuir para a paz mundial.
A diretora adjunta de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Enid Rocha, destacou a atribuição do IPEA no assessoramento técnico à Comissão Nacional dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Presidência da República e na elaboração do Relatório Nacional Voluntário (RNV) sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, que será apresentado no Fórum Político de Alto Nível da Organização das Nações Unidas (ONU), no próximo ano, como parte de seu compromisso com a Agenda 2030.
“Queremos mostrar como as políticas públicas podem colaborar para acelerar o alcance das metas da Agenda 2030”, assegurou. Enid Rocha citou o modelo de relatório da Finlândia, que momentos antes de o concluir, há uma discussão em pares e as observações são publicadas no documento. “Quiçá, conseguimos fazer o mesmo por aqui”, disse.
Para a conselheira para o Clima e o Meio Ambiente na Embaixada da Alemanha no Brasil, Friederike Sabiel, o resultado do GSDR 2030 não é nada muito novo, mas é assustador. “Precisamos de uma solução o mais rápido possível porque esperar não é mais uma opção. O mundo todo fala sobre economia verde, mas isso é o mesmo que desenvolvimento sustentável? ”, provocou. A conselheira finalizou reforçando que cada um dos participantes tem a possibilidade de fazer a diferença no modo consciente em relação ao meio ambiente de seus países.
Da mesma ideia compartilha a diretora Regional para a América Latina, Paula Caballero. “Precisamos criar maior entendimento sobre as mudanças climáticas que estão acontecendo. O Amazonas vai se tornar uma Savana e precisamos da mudança agora, e não em 2030. O relatório é sobre ação e nos lembra que a responsabilidade é em conjunto. Como? Foco no que é necessário e não no que é possível”, concluiu.
Os grupos de trabalho
Workshop Regional para a América Latina e Caribe tem duração de dois dias e também inclui oficinas de trabalho com representantes de países latino-americanos e caribenhos, além da sensibilização dos participantes sobre a situação climática global. A intenção é engajá-los a pensar em como converter as ações de transformação, pontos de partida e desenvolvimento de capacidades apresentados no relatório em ações concretas para maior aproximação dos ODS.
Na programação, os inscritos tiveram a oportunidade de participar de painel sobre a contextualização das principais mensagens do GSRD 2023, com a membro do IGS e cientista pesquisadora sênior do Bedford Institute of Oceanography, Canadá, Nancy Shackell e ouvir as considerações da Oficial de Desenvolvimento Sustentável, da Seção de Análise Integrada de Políticas, Divisão para os ODS, ONU DESA, Stephanie Rambler e da Consultora Sênior de Desenvolvimento Sustentável, Pytrik Oosterhof.
No primeiro dia de Workshop os participantes tiveram espaço para perguntas e contribuições após a explanação dos palestrantes. Foi o caso do diretor da Assessoria de Relações Institucionais da Enap, João Vitor Faria, que observou que no relatório de 2019 os avanços na implementação dos ODS tinham relação com a dimensão econômica. “Á época, a recomendação era reverter a hierarquia entre a dimensão econômica com a social e ambiental - ambas fazem parte da Agenda 2030. Já neste último documento, percebeu-se que aqueles ODS com maior desenvolvimento econômico foram os que mais avançaram, mas aqueles de dimensão social e ambiental não prosseguiram na mesma proporção e o problema se repetiu”, constatou.
Saiba mais
O Relatório Global de Desenvolvimento Sustentável 2030 (GSDR 2030) foi apresentado no Fórum Político de Alto Nível das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (HLPF) em julho de 2023, e publicado em setembro do mesmo ano pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (UNDesa).
Os 193 estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) adotaram formalmente a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável composta pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O documento é composto por 17 objetivos e 169 metas para países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Redação: Sabrina Brito/Enap
Foto: Nethali Medeiros