A plateia presente ao auditório da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) na noite da última quarta-feira (18), ora riu, ora suspirou. A filósofa francesa Gisèle Szczyglak, uma mulher de talhe pequeno e voz macia, rasgou as paredes do auditório com rajadas de verdade. Que a sociedade é machista, todos sabemos. Que as lideranças vão preferencialmente para homens brancos de classe média, idem. Em pouco mais de duas horas, entretanto, a filósofa francesa, autora do livro Subversivas, a arte sutil de nunca fazer o que esperam de nós, foi capaz de enfileirar fatos cotidianos tecendo um retrato fiel da crueldade que consome as mulheres no mercado de trabalho.
Acenos de cabeça deram conta da assertividade das palavras de Gisèle Szczyglak. Algumas mulheres, assombradas com suas próprias constatações, levaram as mãos à boca, como que se percebendo enredadas em sombria trama. “A mulher não é multitarefa, não existe isso. Se você está exercendo muitas tarefas, você está sobrecarregada”, afirmou a francesa, cuja voz sibilava, em francês.
Gisele está em Brasília a convite da Enap – um encontro que costuma acontecer duas vezes ao ano desde 2016, quando a filósofa, docente do Instituto Nacional do Serviço Público da França (INSP), ministrou pela primeira vez o curso “Mulheres na Liderança”, oferecido pela Escola.
A palestra “Superando mitos sobre mulheres na liderança”, na quarta-feira (18), foi aberta ao público, inclusive o masculino - que normalmente é vedado nos cursos ministrados por Gisèle. A oportunidade atraiu o diretor de Carreiras e Desenvolvimento de Pessoas no Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Eduardo Almas, um dos poucos homens presentes. “Eu estou muito feliz e honrado de poder participar. Eu já tenho o interesse em compreender melhor essa temática. No meu entendimento, essa busca pelos direitos da mulher já avançou muito, mas sempre podemos retroceder. É uma luta que não terminou e da qual eu participo”, revelou o funcionário público.
O entusiasmo de Eduardo vai ao encontro do que prega a filósofa francesa: uma união harmoniosa entre os gêneros da sociedade. “enquanto um gênero se sobrepuser ao outro, não temos uma sociedade justa. Aliás, não acredito que tenhamos sequer uma civilização”, disse. A filósofa não atribui a qualquer gênero as características de liderança ou de machismo. “A liderança é aprendida e o machismo também. Existem mulheres machistas e precisamos nos cercar de pessoas progressistas, sejam homens ou mulheres”, defendeu.
A filósofa segue em Brasília, onde ministra o curso Mulheres na Liderança, até a próxima sexta-feira (21).
Sobre a docente
Gisèle Szczyglak é Ph.D em Filosofia Política pela Universidade de Toulouse II, undadora e CEO da WLC Partners e da associação internacional Open Mentoring Network. É especialista em mentoring, inteligência coletiva, liderança feminina, gestão de talentos, implementação de redes profissionais e marketing pessoal. Tem pós-doutorado em Sociologia e em Ética Aplicada pela Universidade de Montreal. É autora dos livros: Do women colaborate with other women; Practical Guide to mentoring; How to be a brilliant mentor; Développez votre leadership: cultiver son influence pour entraîner dans l'action.