Nascida na África do Sul e marcada pelo contexto do Apartheid, a palestrante Myrna Lewis trouxe para a Semana de Inovação seu método: o Deep Democracy. Com base em sua experiência pessoal e profissional, Myrna propôs um caminho para lidar com conflitos e divergências, integrando as vozes minoritárias e promovendo a inclusão ativa. Durante sua palestra, no segundo dia da Semana de Inovação, ela explorou como as tensões sociais e organizacionais podem ser amenizadas através da escuta consciente e da compreensão mútua.
Lewis compartilhou suas memórias sobre como crescer em um lar dividido pela segregação racial influenciou a criação do Deep Democracy. Essa experiência levou a palestrante a desenvolver uma metodologia que busca não apenas ouvir a maioria, mas também dar voz às minorias em processos decisórios.
Durante a palestra, Lewis explicou como o distanciamento entre a maioria e a minoria surge quando não há espaço para o diálogo. “O problema é que a maioria não ouve a minoria, e como resultado disso ambas se dividem e a minoria se afasta”, afirmou. Ela defendeu a necessidade de criar ambientes seguros para que todos se sintam à vontade para expressar suas opiniões, minimizando resistências e prevenindo conflitos.
O método Deep Democracy utiliza técnicas específicas, como a "votação profunda", que incentiva a expressão de opiniões minoritárias, e o "role play", que permite que os participantes experimentem as perspectivas de outras vozes, promovendo empatia e compreensão. “Quando uma organização permite que as pessoas se sintam seguras para dizer o que querem dizer, evitamos a separação e criamos um ambiente mais inclusivo”, afirmou Lewis.
Para ilustrar o funcionamento do Deep Democracy, Lewis orientou uma dinâmica prática com um grupo de 10 pessoas. Na atividade, realizada em diferentes etapas, os participantes foram convidados a refletir sobre o cuidado com os outros versus o cuidado consigo. Em seguida, os participantes compartilharam o impacto de cada fala e tomaram decisões coletivas com base nas reflexões mais marcantes. “A forma como nos tratamos é a forma como tratamos os outros”, destacou Lewis, incentivando um nível mais profundo de conscientização.
A palestrante também discutiu a importância de reconhecer quando a resistência é mais emocional do que lógica, alertando para os momentos em que desculpas repetidas se tornam sinais de uma resistência interna. “Se um sistema continua dando desculpas repetidamente, você precisa saber que não é por lógica, e sim por resistência”, disse ela, reforçando que até a fofoca pode servir como válvula de escape antes de uma ruptura mais grave.
Ao final da palestra, Lewis deixou uma mensagem de reflexão sobre a necessidade de reconsiderar como a sociedade lida com as vozes minoritárias. “A democracia majoritária sugere que 51% terão sua decisão respeitada e 49% terão que cumprir. O que fazemos com essas vozes que perderam? Precisamos encontrar um meio de reconhecer essas pessoas e suas experiências”, sugeriu ela.
Lewis explicou que o Deep Democracy vai além de um modelo de resolução de conflitos. Ele é um convite para uma nova forma de se relacionar, integrando todas as perspectivas, principalmente as que costumam ficar à margem.