Com a moderação de Letícia Péret, a mesa redonda “Sociedade dos Cuidados: Armadilhas e Desafios para a Sustentabilidade da Vida” promoveu um diálogo sobre os desafios e as falsas soluções para a construção de uma sociedade que valoriza e redistribui o trabalho de cuidado. Participaram da programação a socióloga Renata Moreno e a pesquisadora Jordana de Jesus. O encontro foi parte da programação do segundo dia da Semana de Inovação, promovida pela Enap, em Brasília.
Renata enfatizou que o conceito de cuidado precisa ser mais do que um discurso abstrato. “Uma sociedade que cuida coloca a sustentabilidade da vida no centro, algo que nossa sociedade capitalista e patriarcal não realiza”, afirmou ela. Para a socióloga, é essencial que o cuidado seja efetivamente reconhecido e redistribuído, de forma justa entre os gêneros, integrando o Estado como ator central. Ela alertou para a exploração do trabalho feminino e reforçou que a “despatriarcalização” e a “desprivatização” do cuidado são essenciais para que as mulheres não sejam forçadas a abandonar suas carreiras para atender familiares sem suporte adequado.
Jordana trouxe dados para a discussão, destacando a invisibilidade das contribuições de mulheres negras, que, apesar de representarem 24,1% da população, são responsáveis por 44,2% do trabalho de cuidados não remunerado. Jordana expôs duas grandes armadilhas: a não responsabilização masculina e a dependência de trabalho doméstico remunerado como solução paliativa para a crise dos cuidados. “No Brasil, a presença de trabalhadoras domésticas é tratada como solução, mas devemos nos perguntar: a serviço de quem está esse trabalho?”, questionou a pesquisadora.
Ao longo do debate, as palestrantes pontuaram que o peso do trabalho de cuidado recai desproporcionalmente sobre mulheres de baixa renda e, em especial, sobre mulheres negras. De acordo com a moderadora, a questão exige uma reflexão profunda sobre os valores que regem a economia e o trabalho. Renata acrescentou que o cuidado é a sustentabilidade da vida. “Ele precisa estar no centro das nossas prioridades coletivas”, resumiu a socióloga.
Sobre a Semana de Inovação
A Semana de Inovação 2024 é realizada pela Enap, em parceria com a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), o Ministério das Mulheres e o Tribunal de Contas da União (TCU), com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e tem patrocínio de Petrobras, Itaipu Binacional, Instituto Unibanco, Microsoft, IBM/TD Synnex, Fundação Lemann, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), CGI.br, Serpro, Dataprev, Caixa e Governo Federal.