Aprender com as experiências passadas, comparar-se com outros países e manter uma agenda estruturada para o período atual e de pós-pandemia são algumas das recomendações de Marcos Lisboa, economista e presidente do Insper, para a retomada econômica brasileira. Lisboa participou do Fronteiras e Tendências, debate de alto nível para altos executivos públicos.
Para Lisboa, a aposta de uma agenda de crescimento econômico puxada pelo Estado entre 2008 e 2009 fracassou, com pouca qualidade e eficiência dos gastos públicos e o aporte de capital que não se reverteu em geração de renda, emprego ou alta dos investimentos. “Você consumiu muitos recursos da sociedade com projetos que não deram certo”. Este quadro, aliado à recessão econômica, levou a dívida pública a saltar de patamares de 50% para 70% do PIB, avalia.
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Uma história ‘não tão boa quanto parece’
Lisboa enfatizou que as perspectivas para a retomada de crescimento econômico devem considerar o diagnóstico de que temos uma economia com baixo crescimento devido a problemas estruturais. Neste sentido, relembrou que, ao passo que na economia global houve elevação da renda e redução da desigualdade entre os anos 90 e 2000, o Brasil ficou para trás, comparativamente a outros países emergentes.
“A desigualdade cai em muitos lugares, não é um fenômeno brasileiro. Mas a queda da extrema pobreza foi maior no resto do mundo do que no Brasil”, avalia, apontando que a extrema pobreza em países emergentes (exceto América Latina) foi reduzida de 35% da população para 5%, enquanto no Brasil e América Latina caiu de 15% para 5%.
Lisboa atribui a queda da desigualdade de renda no país ao desempenho do mercado de trabalho. “O Brasil aumentou muito a demanda do serviço e atividades intensivas de trabalhadores com menor qualificação. A renda, sobretudo Nordeste, cresceu quase ‘padrão chinês’, de 3% ao ano”. E, ao contrário de outros países, o aumento da renda no país aconteceu apenas nos setores de baixa qualificação de mão de obra.
Não há saída fácil
Em sua avaliação, a pandemia agravou uma situação ‘fragilizada’ da economia brasileira, que era intensificada por problemas estruturais crescentes. Crítico a algumas das medidas adotadas, o economista aponta, especialmente, a importância de olhar para problemas estruturais, como déficits públicos dos Estados e eventuais contrapartidas que poderiam ser colocadas à mesa, como reformas estaduais de previdência mediante auxílios aos entes federativos.
Lisboa aponta que a política fiscal ganha complexidades em tempos de pandemia e seus impactos na economia real. “Esse tem que ser um ajuste lento, cuidadoso, integrado, coordenado. E é uma conta para uma década. Não vai ter saída fácil desse processo”, afirma. “Quanto mais ordenado, menos traumático vai ser quando as pessoas começarem a entender o tamanho da encrenca que a gente construiu”, finaliza.
Estabelecer uma agenda para as questões de segurança jurídica de longo prazo, como o fortalecimento das agências reguladoras, o aprimoramento dos projetos legislativos e a utilização de estudos técnicos foram outros caminhos apontados pelo economista. “A grande evolução da Economia nos últimos 20 anos é a sofisticação de análises, pois você tem técnicas disponíveis que não podem ser desprezadas”, afirmou Marcos Lisboa.