A palestra da diretora do Laboratório de Governança (GovLab) da Universidade de Nova Iorque, Beth Noveck, abriu a Semana de Inovação 2020, promovida pela Enap, nesta segunda-feira, 16. Beth é também professora de Tecnologia, Cultura e Sociedade e membro do Instituto for Public Knowledge da Universidade de Nova York. Sua área de pesquisa é a busca de soluções para problemas públicos. “Não há ferramentas prontas, até porque sempre há componentes políticos. Mas existem técnicas, repertórios que venham do design, de engenharia”, afirmou.
Beth Noveck iniciou sua palestra citando o Genrich Altshuller, um dos pais da “ciência do problema”. Ele era jornalista e defendia a teoria da resolução inventiva de problemas, conhecida como “Triz”. “Ele encontrou soluções para problemas quando começou a pensar em soluções de problemas que nascemos com eles e não pensamos sobre isso. Isso se tornou um movimento global, mas não foi conectado com problemas reais. E ele criticou a sociedade de não conseguir solucionar”, explicou Noveck.
Segundo Beth, os problemas sociais são como obstáculos para a solução dos desafios. Ela considerou que existem dois grandes problemas nos dias de hoje: “Os casos de Covid aumentando novamente em diferentes partes do mundo. E o racismo sistêmico, como a abordagem da polícia ao americano George Floyd. Sabemos que, infelizmente, fatos como esse também ocorrem no Brasil. E sabemos que pessoas negras são minorias trabalhando dentro dos órgãos governamentais,” comentou.
O mundo contemporâneo, ressaltou Beth, tem diferentes desafios para os quais os governos são ineficientes para lidar. “Isso não está acontecendo somente nos Estados Unidos e no Brasil, mas no mundo inteiro. A confiança para com os governos é muito baixa, assim como para com a democracia”, disse. Afirmou, ainda, que muitas vezes pensamos que o governo é o problema, mas deveria ser a solução. Beth citou Margaret Thatcher, lembrando da afirmação da ex-primeira-ministra da Inglaterra que dizia que pequenos cidadãos podem mudar o mundo “E acho que é o que sempre acaba acontecendo historicamente”, concluiu.
Coronavírus
Beth Noveck apresentou um trabalho conduzido por ela em New Jersey no GovLab, quando surgiu o novo coronavírus. Em parceria com empresas privadas americanas e com a Federação Americana de Ciência, o grupo criou uma plataforma digital em três dias, o www.covid19.nj.gov. Eles receberam 16 milhões de visitantes, sendo 2 mil e-mails por dia. A plataforma oferecia serviços como informações de laboratórios, hospitais, médicos e locais de atendimentos disponíveis. Ela mostrou ainda uma ação de um grupo chamado “Mãos Invisíveis” que contou com a participação de 10 mil pessoas para fazer compras nos supermercados e entregar nas casas de pessoas idosas.
“Comparo meus problemas a um mapa de metrô. Divido em definição, solução e avaliação. Gosto de fazer umas paradas para analisar a situação, assim como as estações de trem. As filas dos passageiros são as metas e as regras para encontrar as soluções,” explicou.
Beth afirma que existem os solucionadores de problemas públicos, que pensam em algo específico para agir rapidamente. Para isso, eles usam métodos analíticos para entender de forma ampla a situação real. “Eles sabem utilizar revisões rápidas e problemas que já forem usados no mundo. Se baseiam em estudos acadêmicos. Fazem projetos em parcerias com outras entidades. Sabem como utilizar técnicas experimentais para ver o que funciona e mudar o que não está funcionando. Além disso, utilizam dados e inteligência coletiva como subsídio para o trabalho,” afirmou.
Ela finalizou sua palestra fazendo uma reflexão sobre o momento atual. “No mundo todo, estamos vivendo em tempos de ansiedade, temos desafios, estamos sofrendo de falta de solução de problemas, mas temos que pensar nas ferramentas para amanhã. Então, no século XXI temos que nos equipar com habilidades de solução de problemas públicos. Precisamos investir nas pessoas, com novas habilidades de inovação e digitais para sermos mais efetivos.”