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Martin Gurri participou do Fronteiras e Tendências e discutiu temas atuais e relevantes para altos executivos do governo

Um tsunami de informação digital produzida por um público engajado, indignado e atuante de forma ativa nas plataformas digitais atingiu as  instituições do governo democrático. Mas quem é esse público? Por que a raiva contra os governos eleitos? Como as plataformas digitais minam a autoridade das elites hierárquicas? E, o mais importante: o que as pessoas desejam e o que os governos podem fazer para reconciliar-se mais uma vez com as instituições democráticas?

Por isso, para contar um pouco sobre a história de como as insurgências, ativadas agora por dispositivos digitais e uma vasta esfera de informações, mobilizam milhões de pessoas comuns em todo o mundo, o Frontend Live convidou o ex-analista da CIA, especializado em relacionamento com a política e a mídia global, Martin Gurri.

 

Gurri passou sua carreira analisando o ambiente global de informações e pôde ver que algo importante estava por vir. Em seu livro “The Revolt of the Public and the Crisis of Authority in the New Millennium”, publicado em 2014 e republicado em 2018, previu que a revolução da informação desencadeada pela internet acabaria desestabilizando políticas e instituições em todo o mundo nas próximas décadas. 

Martin fala que provavelmente teve o emprego menos glamoroso na CIA: era analista de mídia global. “No início, era um trabalho bastante direto, pois havia apenas um pequeno volume de informações abertas para analisar”. Entretanto, tudo mudou por volta da virada do milênio, onde a quantidade de informações produzidas em toda a história praticamente dobrou. “Um tsunami de informações surgiu em volumes sem precedentes na experiência humana”,  afirma.

Os acontecimentos desde o lançamento do livro fizeram com que parecesse profético ao prenunciar, por exemplo, os choques políticos do Brexit e a improvável ascensão de Donald Trump à presidência. Com um olhar especulativo para o futuro, Gurri pondera se a atual elite pode trazer uma reforma no processo democrático e se novos princípios de organização, adaptados para um mundo digital, podem surgir da  atual turbulência política.

Para Gurri, o século XXI parece estar em revolta contra o século XX e a forma da rebelião variou de protestos destrutivos nas ruas. A tecnologia reverteu categoricamente o equilíbrio de poder da informação entre o público e as elites que administram as grandes instituições hierárquicas do governo da era industrial, dos partidos políticos e da mídia. 

Poder das redes

À medida que o tsunami de informações varria o mundo, o ex-analista da CIA observou uma grande turbulência social e política por trás dele. Era apenas uma questão de tempo para o virtual causar um impacto no mundo real. “O ano de 2011 provou ser o momento de mudança. Naquele ano, os movimentos online impulsionaram as revoltas árabes, protestos na Espanha, em Israel, nos Estados Unidos e em dezenas de outros países”, afirma. 

Na era da informática, as notas se multiplicam quase de minuto a minuto. Elas contêm informações e novidades sobre os protestos em andamento, convocações a participar de novas manifestações ou simplesmente palavras de ordem de estímulo aos manifestantes e insultos contra os dirigentes e todos aqueles que os apoiem. 

Por que a raiva?

À primeira vista, alguns protestos parecem ser explosões espontâneas de indignação por preocupações aparentemente pequenas, mas quase todos os protestos têm raízes profundas e são o resultado de anos de crescente raiva por falta de ação, problemas econômicos, má administração, corrupção ou repressão. 

Uma das explicações históricas segundo Martin, é a de que a elite adora estar no topo da pirâmide e que o público odeia a distância entre as elites e eles próprios. “As elites parecem estar mais preocupadas em restabelecer sua distância do público do que em reformar o sistema.”

Segundo ele, instituições que sustentam a sociedade moderna foram estabelecidas na era industrial, quando a sociedade era organizada de acordo com o modelo industrial e as elites industriais ocupavam o topo da pirâmide. 

Entretanto, a revolta do povo nunca foi uma “revolta dos pobres”, diz o ex-analista da CIA. “Os manifestantes que saem às ruas tendem a ser brancos, de classe média e com formação superior”. E por que a raiva contra os governos eleitos? De acordo com Gurri, a paixão que conduz as pessoas às ruas não está inspirada em qualquer programa ou visão particular, mas sim um poderoso sentimento de repúdio contra o governo, contra as elites, contra as instituições e contra o sistema.

Ele destaca que as elites poderiam identificar as causas da raiva e trabalhar para reconciliá-las com o sistema, mas isso implicaria achatar a pirâmide política e reduzir ao máximo sua distância do público. “E, infelizmente, isso não está acontecendo”, lamenta.

Por fim, ele reforça a discussão sobre a importância do voto consciente e argumenta que, como sociedade, precisamos substituir nossa elite atual e remodelar radicalmente o governo. “Nós elegemos nossas elites ao votar, ao doar dinheiro para um partido ou ao assistir um programa de TV e seguir celebridades. Criamos uma elite que nós mesmos consideramos corrupta. Há uma certa contradição nisso, por isso precisamos decidir conscientemente quem queremos seguir, quem queremos como modelo.

Martin Gurri

Martin Gurri é ex-analista sênior da CIA e ex-Diretor de Pesquisa do U.S. Government's Open Source Center. Também é pesquisador visitante no Mercatus Center na George Mason University. Autor do livro “The Revolt of The Public and the Crisis of Authority in the New Millennium”.

Publicou vários artigos, estudos e artigos de opinião sobre tópicos geopolíticos e relacionados à mídia. Seu blog, The Fifth Wave , aborda os temas inicialmente elaborados em The Revolt of the Public .

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