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Autora de livros e pesquisadora fez um levantamento dos principais dados e agendas positivas por uma mudança de olhar para a categoria

Thalita Souza


A professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Juliana Cristina Teixeira, trouxe casos reais e contraditórios sobre a situação das trabalhadoras domésticas remuneradas no Brasil, com a palestra “E as diaristas? Agendas para a dignidade do trabalho doméstico remunerado e sem vínculo empregatício”. A fala da docente também abordou raízes escravistas e interseccionais do trabalho doméstico. A palestra, realizada na tarde desta quarta-feira, 30 de outubro, foi parte da programação do segundo dia da Semana de Inovação, promovido pela Enap, em Brasília.

Com 12 anos de atuação no tema sobre cuidados, a pesquisadora destacou o fato histórico do trabalho doméstico estar ligado ao afeto, ainda que de maneira contraditória, com relatos de trabalhadoras e suas relações próximas com patrões. “A gente demorou muito para falar sobre o cuidado, e essa demora tem uma raiz escravista, tem uma dimensão de gênero bastante marcada. É algo que não será historicamente reconhecido como trabalho”, avaliou ela.

A palestra foi baseada no livro escrito pela professora, “Trabalho Doméstico”, da coleção “Feminismos Plurais”, organizada pela autora Djamila Ribeiro.

Juliana remontou ao tempo em que as antecessoras das empregadas domésticas eram escravizadas e ainda escolhidas. Havia, então, uma maior permissividade inclusive da relação sexual e do assédio. Elas eram consideradas, como contou a docente, “mães pretas da família”.

Ela citou a chegada do período das trabalhadoras assalariadas, mensalistas, que viviam sob delimitações espaciais, sob o mito do afeto e das desigualdades, eram consideradas quase parte da família e sexualizadas. Vem, então, a fase das mensalistas não residentes, com relações de trabalho assalariadas, que carregavam o medo dos empregadores do que elas podem levar do seu mundo para as diárias.

“Estou mostrando essas fases, que no livro detalho um pouco mais. Porém, é importante dizer que não são fases estanques, elas não se sucederam completamente, uma não deixou de existir seguida da outra. Estou falando de tendências históricas que acompanhamos”, alertou ela.
Juliana apresentou dados de pesquisas que demonstram que as mulheres, assalariadas ou não, ainda são maioria entre os números da pobreza e má qualidade de vida no país. Além disso, registrou agendas importantes no combate a essa realidade da falta de cuidado com a categoria.

Fora da curva
Juliana expôs em sua apresentação uma foto com a mãe em seu local de trabalho, um dos poucos registros da infância, de 1994, feita pelos próprios patrões da ocasião. A foto, segundo relato, foi produzida sem nenhum cuidado ou escolha de um bom cenário que reproduzisse a beleza da relação materna. Ao invés disso, ficou relegada à área de serviço da casa.

“Não importa se em 1994 ou 2024, a gente costuma procurar um lugar bonitinho para tirar foto, mas essa família tirou o único registro que eu tenho com a minha mãe nessa idade, na área de serviço. Se a gente fosse pegar uma tríade de raça, gênero e classe no Brasil, eu estaria confinada a essa área de serviço, sem nenhum demérito ao trabalho que é realizado nessa área de serviço, mas o destino das filhas das trabalhadoras domésticas era também ser trabalhadora doméstica”, declarou a professora.

Juliana alcançou formação completa em administração, com graduação pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ/MG); mestrado pela Universidade Federal de Lavras (UFLA/MG) e doutorado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Além de docente na UFES, foi professora na UFSJ e é palestrante e consultora na área de DE&I (diversidade, equidade e inclusão).

Na Enap, já foi colaboradora nos cursos Premium de Liderança Pública para Altos Executivos e Liderança para Mulheres Negras no Serviço Público, além de ter lecionado no Programa de Formação de Lideranças no Serviço Público.

Sobre a Semana de Inovação

A Semana de Inovação 2024 é realizada pela Enap, em parceria com a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), o Ministério das Mulheres e o Tribunal de Contas da União (TCU), com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e tem patrocínio de Petrobras, Itaipu Binacional, Instituto Unibanco, Microsoft, IBM/TD Synnex, Fundação Lemann, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), CGI.br, Serpro, Dataprev, Caixa e Governo Federal.

SERVIÇO:

O quê: Semana de Inovação 2024 (entrada gratuita)

Onde: Escola Nacional de Administração Pública - Enap (SPO Área Especial 2-A, Asa Sul, Brasília-DF)

Data: 29, 30 e 31 de outubro

Formato: Presencial e On-line (Apenas as atrações de palco principal serão transmitidas. As demais atividades presenciais só para os participantes in loco. A programação on-line é exclusiva para inscritos on-line)

Mais informações e inscrições:  http://semanadeinovacao.enap.gov.br

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