As consequências de uma pandemia, como de Covid-19, não se restringem aos efeitos imediatos no setor de saúde, mas impactam também outras dimensões, como trabalho, educação, desigualdade social e violência doméstica. E esses impactos podem durar anos ou décadas, atingindo até mesmo as próximas gerações. É o que aponta um estudo exclusivo da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), produzido pelo Evidência Express (EvEx) e divulgado nesta terça-feira (11).
O relatório Covid-19: mitigação dos efeitos de longo prazo compila, no entanto, mecanismos de mitigação bem-sucedidos que podem atenuar esses efeitos de médio e longo prazos. Destacam-se duas linhas de atuação: a inserção de jovens no mercado de trabalho e os investimentos em programas voltados para mulheres durante o período pré-natal.
“O EvEx consolida o conhecimento disponível a respeito de um determinado tema e fundamenta decisões com base em estudos reconhecidos internacionalmente. Além de ser uma importante contribuição para tomadores de decisão do governo brasileiro, o relatório pode subsidiar também a atuação de outros setores da sociedade”, destaca o presidente da Enap, Diogo Costa.
No total, o relatório apresenta 44 problemas comuns após choques e 26 estratégias de mitigação em cinco grandes áreas: 1) saúde; 2) educação; 3) trabalho e rendimento; 4) pobreza e desigualdade; e 5) violência doméstica. O levantamento foi feito com base nas principais pesquisas realizadas em diversas partes do mundo – inclusive no Brasil – depois de situações inesperadas como gripe espanhola, ebola, terremotos, enchentes e furacões nos últimos 20 anos.
Saúde pior, menor rendimento
O estudo aponta, por exemplo, que no caso de jovens que estão ingressando no mercado de trabalho, há uma tendência que tenham uma trajetória laboral menos promissora, com menores rendimentos futuros. Esse efeito pode ser atenuado não apenas por programas de transferência de renda, como por medidas que incentivem a capacitação e, assim, a melhor inserção nas oportunidades de trabalho.
Ao mesmo tempo em que há uma tendência de aumento da taxa de nascimentos após choques exógenos, os estudos apontam que crianças que foram expostas ao estresse materno durante a gestação podem apresentar baixo peso ao nascer – indicador associado ao desenvolvimento cognitivo futuro. E isso pode ter impactos no processo de aprendizagem anos após a pandemia.
Neste segundo caso, ganham importância políticas públicas direcionadas às gestantes, especialmente focadas na redução do estresse nutricional e perda/queda da atividade econômica. Isso poderia ser feito por meio de políticas já existentes, como o Benefício Variável Gestante (BVG), e sua expansão para mães para permitir que seja feito um acompanhamento do desenvolvimento dos bebês de forma preventiva. O estudo aponta que o custo dessas intervenções são menores do que os impactos futuros ao longo da vida do bebê exposto à pandemia no período pré-natal
Crise atinge população de forma desigual
Há, também, implicações sobre a pobreza e desigualdade. Além da maior mortalidade da porção social mais desprotegida em momentos de choques, aumenta a vulnerabilidade social: com menos opções de obter renda, diminuem os gastos essenciais em alimentação ou obriga-se a substituição de outros gastos, como saúde e educação. Com isso, cresce a desigualdade no longo prazo em razão do impacto desproporcional, aumentando também as adversidades para se recuperar os níveis de bem-estar pré-pandemia.
O estudo Covid-19: mitigação dos efeitos de longo prazo faz parte de Evex, novo serviço oferecido pela Enap, direcionado principalmente a gestores públicos. O EvEX é uma iniciativa da Enap, focada em reunir, sintetizar e fornecer com qualidade e agilidade evidências que possam servir de base para o desenho, o monitoramento e a avaliação de políticas públicas.
Relatório Covid-19: Mitigação dos Efeitos de Longo Prazo |
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Ações efetivas para reduzir impactos pós Covid-19 (parte mais importante) |
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Saúde |
- Investimentos durante o período da primeira infância (retorno superior a 13% ao ano) - Recursos financeiros adicionais durante o período crítico da pandemia |
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Educação |
- Alimentação e ingestão de calorias no estágio pré-natal e durante a primeira infância - Isenções de taxas acadêmicas - Desenvolvimento de um eficaz ambiente virtual de aprendizagem - Formação de grupos de apoio mútuo para troca de informações, experiência e suporte educacional para mulheres jovens |
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Trabalho e rendimento |
- Incentivo à flexibilização da forma de trabalho ](ex: home office) - Proteção do emprego e da renda dos afetados pelos efeitos indiretos (fechamento de fábricas, proibição de viagens, cancelamento de eventos públicos etc.) - Maior proteção social por meio de programas existentes e/ou pagamentos com essa finalidade para trabalhadores - Acordos de trabalho com curta duração, benefícios parciais de desemprego ou apoio para empresas, como medidas de redução de impostos e suavização de receita para incentivar a continuidade dos negócios - Promoção de treinamento profissional e subsídios à remuneração - Garantia de pelo menos um curso de qualificação profissional |
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Pobreza e desigualdade |
- Manutenção do comércio internacional aberto - Promoção de suporte a medidas relacionadas a investimentos (para diminuir impacto e também expandir fundos de auxílio internacional) - Estímulo ao comércio eletrônico - Ampliação do acesso à internet para facilitar as transações financeiras em dispositivos móveis - Implementação de políticas de rede de proteção, como ajudas emergenciais às classes mais necessitadas - Preservação dos ganhos de conhecimento e competências obtidos antes de um choque inesperado - Garantia de investimentos públicos em nutrição infantil |
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Violência doméstica |
- Tratamentos psicológicos e conscientização social - Programas de apoio para profissionais da área de saúde mental - Formação de grupos de apoio entre mulheres jovens - Redução nos níveis excessivos de bebida - Conscientização sobre os efeitos na saúde mental e a violência intergeracional vivenciada por mulheres e crianças - Identificação e atendimento às vítimas e/ou agressores |