Se havia questionamentos de professores sobre os modelos de Educação à Distância (EaD) no passado, a pandemia da Covid provou que as aulas virtuais em vídeo são uma necessidade e devem ser amplamente usadas nas escolas daqui para frente. Com quase um ano de coronavírus no mundo, a conclusão é que estudantes e professores devem ter escolas repensadas e remodeladas depois que os problemas com coronavírus estiverem controlados. É certo que nada será como antes na Educação pós-pandemia.
Na manhã de hoje, a Semana de Inovação 2020 reuniu um grupo de renomados especialistas no evento virtual “O futuro da educação na pós-pandemia”, no espaço das Trilhas Temáticas. O sentimento comum é que países do mundo todo adotarão de forma generalizada o formato híbrido de aulas (presencial e online). Para o Brasil, o desafio é grande por conta de grande número de municípios e da necessidade de investimento para equipar escolas e treinar professores para EaD.
“Neste ano, ficou claro que, além do pouco preparo dos professores, as escolas públicas e, também, as privadas estão presas a um modelo antigo de ensino”, disse Maria Helena Castro, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE). “Houve as mudanças da internet, a economia 4.0, e as alterações no mercado de mercado, e a escola ficou igual. A pandemia veio para quebrar o modelo de nossas escolas.”
A vontade de mudar é grande. Uma pesquisa da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostrou que 80% dos países do grupo defendem escolas renovadas e abertas às inovações de ensino. “As escolas estavam muito suscetíveis ao vírus. Mas se descobriu que o risco de infecção é igualmente alto na casa das pessoas. Por isso, as escolas se mantiveram em funcionamento presencial, mesmo com a nova onda da Covid na Europa”, afirmou Andreas Schleicher, diretor da OCDE.
Segundo Schleicher, os países que integram a OCDE estão atentos às inovações da área educacional em todo o mundo que possam ser replicadas. Na Ásia, contou ele, os alunos recebem um feedback dos professores sobre desempenho de aprendizado online – se aproximando do que ocorre na aula presencial. As avaliações de tarefas escolares e provas passam por sistemas de Inteligência Artificial, medindo o grau de aprendizagem dos estudantes. “A educação não vai permanecer a mesma de antes”, disse.
Valorização de professores
No Brasil, a percepção do Ministério da Educação é que o entusiasmo com o ensino virtual deve ser analisado com cuidado. O que vai se configurando é um horizonte de complementariedade entre aulas presenciais e virtuais. “O futuro vai ser, sem dúvida, um mix dos dois formatos. No digital, o professor não capta a reação do aluno, não percebe se ele está de fato apreendendo. A aula presencial favorece a interação social, a inovação”, avalia Victor Godoy, Secretário-Executivo do Ministério da Educação.
Godoy tem clareza dos desafios a serem enfrentados pelo ensino brasileiro pós-pandemia. Para ele, existe a questão central do acesso de alunos e professores aos dispositivos digitais (banda larga, computadores). Para um modelo robusto de EaD, será necessário ter uma formação continuada de professores que foram formados e preparados para aulas presenciais. “A valorização do professor tem de ser o centro do novo foco de mudanças trazidas pela pandemia”, ressaltou Godoy, no debate das Trilhas Temáticas.
Em vídeo exibido no debate, o ministro Milton Ribeiro (Educação) deixou muito clara a estratégia do governo para investir em formação dos professores nos meios digitais e para equipar as escolas públicas com recursos tecnológicos. “Na pandemia, a sociedade foi inserida na era digital de forma mais rápida do que se esperava”, afirmou o ministro, acrescentando que o governo aumentou o volume de recursos para o programa “Educação Conectada” e para tecnologia em escolas na Amazônia.
Abandono escolar
A paralisação de aulas presenciais na pandemia trouxe um problema adicional para os países do América Latina. Trata-se da evasão escolar que já era elevada e piorou após a Covid-19. Segundo Mariano Jabonero, secretário-geral da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), a preocupação é com os estudantes que estão perto de concluir o ensino médio e aqueles que acabaram de entrar na universidade. “A estimativa é que 20% dos jovens não retornarão às salas de aula”, afirmou.
“É uma perda de aprendizagem que vai afetar negativamente a vida dos estudantes e a economia dos países de região. Já se fala em perda de uma década, algo que só se viu na crise de 1929”, avaliou Jabonero. “O certo é que não devemos voltar à inércia de antes n Educação. Teremos uma escola mais transformadora”, acrescentou.