A Semana de Inovação 2024 recebeu nesta quinta-feira (31) um debate sobre o papel das plataformas digitais que fazem a intermediação entre a atuação de trabalhadoras domésticas e os solicitantes de serviços.
A palestra “Cooperativismo de plataformas dos trabalhos remunerados de cuidados e outras experiências”, no Palco Brasil Que Cuida, contou com a presença de pesquisadoras e ativistas, além de mulheres que já buscaram oportunidades de serviço nos referidos meios digitais.
Durante o evento, Renata Tica, doutora em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), afirmou que a “plataformização” do trabalho doméstico tem tornado essa atividade ainda mais intensa.
“Um trabalho que levaria o dia inteiro para ser feito passa a ser realizado em três horas, muitas vezes, por um pedido do próprio solicitante do trabalho. E, depois desse trabalho, talvez ainda tenha outro em seguida. E caso não seja feito de acordo com o pedido, uma avaliação ruim pode penalizar as trabalhadoras”, explicou Renata.
A pesquisadora acrescentou ainda que em alguns aplicativos, após receber avaliações ruins, a trabalhadora perde “estrelas” e, deste modo, cai de categoria e as ofertas de serviços que vão surgir não serão boas como as que surgiram caso tivessem análises melhores.
Filha de trabalhadora doméstica, Jéssica Miranda hoje é coordenadora de projetos sociais na Themis - Gênero, Justiça e Direitos Humanos - e acredita que a tecnologia aliada à justiça pode chegar até as trabalhadoras domésticas para que elas estejam no centro da Política Nacional de Cuidados e sejam visibilizadas.
Durante o evento, Jéssica apresentou o Laudelina, um aplicativo dedicado a essas trabalhadoras que inspirou outras experiências na América Latina em países como México, Colômbia, Peru e Honduras.
“Laudelina é uma plataforma diferente de uma plataforma de intermediação, ela vem para que as trabalhadoras remuneradas possam ter os seus direitos na palma da mão. Então, ali vai ter uma aba que elas vão poder conhecer seus direitos através de áudios, textos”, comentou.
Além disso, a aplicação conta também com uma calculadora de salários e uma aba de denúncias com relação a trabalho doméstico escravo, assédio sexual e outros casos de violação de direitos. Por lá, elas podem ainda conhecer mais sobre a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad).
Também no palco, Fernanda Souza falou sobre a plataforma digital “Contrate quem luta”, lançado pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) com objetivo de conectar militantes do movimento por moradia a oportunidades de trabalho.
“Lembro que tentei procurar oportunidades de trabalho nos aplicativos para empregadas domésticas, mas foi muito ruim, não gosto nem de lembrar o que passei. Em uma das situações, por causa do meu CEP, eu nunca pude ser chamada para uma faxina, simplesmente porque eu moro na periferia. Eu me senti muito discriminada”, relatou Fernanda, que é coordenadora da iniciativa.
O Contrate Quem Luta funciona totalmente via WhatsApp e os interessados podem contratar serviços como pintor, mestre de obras, diarista, segurança e babá, entre outros. “Nessa plataforma eu vi o meu mundo se abrir, lá a gente se ajuda, porque somos do mesmo meio. Meu sonho é que todo mundo tenha trabalho digno, respeito e alimento na mesa”, finalizou.
Sobre a SI 2024
A Semana de Inovação 2024 é realizada pela Enap, em parceria com a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), o Ministério das Mulheres e o Tribunal de Contas da União (TCU), com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e tem patrocínio de Petrobras, Itaipu Binacional, Instituto Unibanco, Microsoft, IBM/TD Synnex, Fundação Lemann, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), CGi.br, Serpro, Dataprev, Caixa e Governo Federal.