Aos 68 anos, a paraguaia Olinda María Bareiro Bobadilla, mais conhecida como Line Bareiro,

é uma das referências do feminismo latino-americano contemporâneo. Além de advogada, cientista política e especialista em direitos humanos, Line é também professora do programa de gênero da Faculdade de Ciências Sociais (Facso) na Argentina, pesquisadora do Centro de Documentação e Estudo do Paraguai e consultora da ONU Mulheres - sendo a primeira do seu país a integrar o Comitê para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres da Organização das Nações Unidas, mecanismo responsável pelo monitoramento da Convenção sobre a Eliminação de Todos Formas de Discriminação Contra as Mulheres.

Em um contexto de crescente reconhecimento da forma desigual que mulheres e homens ocupam espaços de tomada de decisão - particularmente na política - Bareiro defende a democracia paritária como um modelo político no qual a igualdade se constitue como elemento fundamental do Estado inclusivo e paritário, e que implica profundas transformações que incluem desde a participação política feminina até o enfrentamento das variadas violações de direitos contra mulheres e meninas.

Nesta entrevista concedida, Line aponta que embora existam experiências exitosas de representação feminina na política na América Latina, há ainda muito o que se discutir sobre o tema. Categórica, ela afirma que a representação das mulheres na política significa uma transformação muito profunda no mundo e na construção de sociedades melhores.



‘Laterna' do ranking

Brasil ocupa a 32ª posição em um ranking de 33 países latino-americanos e caribenhos sobre participação das mulheres nos parlamentos nacionais. Com 9,9% de parlamentares eleitas, o país só fica à frente de Belize, cujo índice é de 3,1%. O primeiro colocado é a Bolívia, com 53,1% de participação de mulheres no parlamento.

Na América Latina e Caribe, o índice médio de participação de mulheres no parlamento é de 28,8%, segundo o ranking "Mulheres na política 2017" da União Interparlamentar (IPU, na sigla em inglês) e da ONU Mulheres. O Brasil também ocupa as últimas posições no ranking mundial de 172 países, ficando em 154º lugar, considerando o índice de participação de 10,7% de mulheres na Câmara e de 14,8% no Senado.

Há dois anos, o Parlamento Latino-Americano e Caribenho (PARLATINO) adotou a Norma Marco para Consolidar a Democracia Paritária, elaborada em cooperação com a ONU Mulheres para Américas e Caribe, com o objetivo de impulsionar o aumento da participação das mulheres na política na região. Saudado por políticas, especialistas em gênero e ativistas dos movimentos feministas e de mulheres, o marco legal estabelece a democracia paritária como modelo de democracia no qual a paridade e a igualdade substantiva entre mulheres e homens são os eixos estruturantes do Estado inclusivo.

Segundo a ONU Mulheres, são objetivos da democracia paritária um novo contrato social e forma de organização da sociedade para erradicação de toda exclusão estrutural, em particular, contra as mulheres e as meninas; um novo equilíbrio social entre mulheres e homens no qual ambos assumam responsabilidades compartilhadas na vida pública e privada; articulação entre Estado e sociedade sobre a base da igualdade substantiva em todas as dimensões e processo de tomada de decisão baseada na composição paritária. Uma democracia paritária compreende a igualdade substantiva, é uma democracia real, eficaz, inclusiva e responsável, afirmou a agência da ONU.

Enap Entrevista

Trata-se de uma série de entrevistas em vídeo com líderes governamentais, acadêmicos e gestores públicos nacionais e internacionais, que fomentam o debate sobre temas diversos e relevantes para a Administração Pública. Dentre os temas abordados, já foram debatidos a construção de capacidades estatais, implementação de políticas públicas, a promoção do desenvolvimento de servidores públicos, etc.

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