o mestre e doutor em Ciência Política pelo Iuperj e professor da PUC-Rio, Marcelo Jasmin. Ele vem à Escola para ministrar a conferência "Despotismo democrático e des-civilização". As vagas são limitadas. Inscrições no local.
Jasmin ensina Teoria da História na PUC-Rio, e Teoria Política e História do Pensamento Político no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política do Iesp-Uerj. Escreveu os livros Alexis de Tocqueville: a historiografia como ciência da política, Racionalidade e história na teoria política, Modernas tradições: percursos da cultura ocidental (com Berenice Cavalcante, João Masao Kamita e Silvia Patuzzi) e História dos conceitos: debates e perspectivas (com João Feres Júnior).
Sinopse
No ano de 1840, Alexis de Tocqueville vislumbrava a possibilidade de a sociedade moderna, que então se formava na Europa e nos Estados Unidos, caracterizada por uma crescente igualdade de condições entre todos os seus habitantes, viesse a produzir uma aberração política. Imaginou um mundo em que todos adultos votassem periodicamente para eleger seus representantes, mas que estes últimos não os representassem de fato, observando antes os seus interesses próprios do que o bem-comum. Mas sendo eleitos, os governantes teriam a sua legitimidade garantida pelas urnas, quase que independentemente do que façam no governo. Dado que os cidadãos modernos têm pouco contato e interesse na coisa pública, até porque passam a maior parte de seu tempo dedicados ao trabalho da sobrevivência, as dificuldades com a elaboração e o acompanhamento das coisas políticas seriam crescentes e resultariam numa adesão, pouco refletida, a fórmulas gerais, em contexto de baixa experiência prática na resolução das coisas comuns. Se a cultura política da sociedade democrática representativa fosse a da apatia cívica ou a da progressiva alienação em relação à coisa pública, pensava o autor de A Democracia na América, estavam dadas as condições para uma forma inédita de opressão que ele chamou, sem deixar de estar atento à estranheza da formulação, de "despotismo democrático". Um despotismo "doce", "suave", pois não precisaria violar os corpos para afirmar o seu poder garantido pelos procedimentos de legitimação eleitoral. A construção conceitual de Tocqueville apontava para uma das alternativas possíveis na evolução tardia do mundo democrático moderno e parece que, pelo menos até recentemente, não encontrara na experiência a sua confirmação.
Em seu livro Os alemães, publicado postumamente em 1992, o sociólogo Norbert Elias buscou compreender como "a ascensão do nacional-socialismo e, por consequência, também a guerra, os campos de concentração e o desmembramento da Alemanha ante bellum em dois Estados" ocorreu naquele país em que o florescimento das artes, do pensamento e da cultura em geral havia alcançado as suas formas mais sofisticadas nos séculos anteriores. Observando o quadro mais abrangente das mazelas do século XX, Elias se pergunta se estaríamos assistindo ao "princípio do fim do movimento civilizador europeu" ou da "sua continuação num novo nível?". O exame desta questão, até aqui não resolvida, exigiria a distinção entre, por um lado, um "processo de rebarbarização", compreendido como uma reversão da tendência secular à civilidade, tal como proposta pelo autor em seu estudo clássico de 1939, O processo civilizador, e, por outro, a emergência, não necessariamente tendencial, de um ou outro "violento surto descivilizador". No primeiro caso, estaríamos assistindo ao fim histórico de um longo período civilizador, no segundo a episódios produzidos pela própria civilização, ou como reação a ela, mas desviantes de suas tendências continuadas de pacificação. Em ambos os casos, a suspensão ou dissolução dos mecanismos de autocontrole que teriam caracterizado a "profundamente arraigada transformação civilizadora da estrutura inteira da personalidade" estaria na origem da recente banalização da violência na vida social e contribuiria para a "informalização" das regras de conduta cujo desenvolvimento, entre os séculos XVI e XIX, teriam garantido uma convivência social tida como progressivamente satisfatória na vida europeia, antes de eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914.
Tocqueville morreu em 1859 e Norbert Elias nos deixou em 1990, mas as suas indagações continuam presentes, a exigir investigações. A sensação contemporânea, aguçada neste início de século XXI, parece sustentar que vivemos, de um lado, a continuidade dos tempos sombrios, marcados pela ameaça constante da guerra, da destruição, do terrorismo, do crescimento de desigualdades e conflitos e, de outro, da continuidade e da repetição mecânica da fórmula eleitoral representativa.
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