Embora sejam mais da metade da população brasileira e terem maior escolaridade que os homens, as mulheres ainda enfrentam obstáculos para ocupar posições de comando no setor público. Para debater situações como essa, a Semana de Inovação 2020 realizou na tarde de hoje o encontro “Mulheres líderes no setor público: visões de sete mulheres líderes no Brasil”, no espaço das Trilhas Temáticas do evento.
“Quando se trata de políticas públicas, não fazer escolhas também é um ato político. Quando o governante escolhe mais homens que mulheres, é um ato político dele”, disse Jessika Moreira, coordenadora geral do Íris (Laboratório de Inovação do Governo do Ceará). “Se queremos falar de sociedade mais igualitária, temos que apoiar e contribuir para a abertura de caminhos para que lideranças femininas ocupem estes espaços.”
Jessika apresentou números que mostram a sub-representação das mulheres nos principais cargos da administração pública. “Nos últimos anos, tivemos 188 ministros escolhidos, mas só 21 eram mulheres. De todos os estados do país, apenas 25% são secretárias de estado. 60% das pastas de Educação e Assistência Social são lideradas por mulheres. Na Segurança Pública, não tem nenhuma. Na Saúde, são só três”, afirmou.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou a disparidade entre homens e mulheres no setor público. Elas chegaram ao patamar de 59% do total de servidores federais, porém ganham em média 24% menos do que os homens. É uma situação que espelha um quadro mais geral do país. O Brasil ocupa o 132º lugar no ranking do Fórum Econômico Mundial, na lista de 149 nações, sobre equidade salarial para trabalho similar, formulado em 2018. Um ano antes, ocupava a 119º posição.
“Quando a gente vê os dados de mulheres em cargo de liderança, não as vemos nos cargos mais altos. Isso é necessário para a mudança do modelo mental. Sem estar nos cargos mais altos, não conseguimos fazer a influência da melhor forma”, observa Luana Faria, fundadora e líder do LA-BORA! gov do Ministério da Economia.
Luana cita os dados de cargos de assessoramento de nível superior (DAS) para apontar a baixa presença de mulheres. Até o nível 3 de cargos DAS no governo federal, as mulheres representam 48% das ocupantes. No nível 6, o mais alto, são apenas ó 17%. “O ciclo de decisão no governo só começa a partir do nível 4, quando justamente começamos a diminuir a representatividade”, explica.
A mudança depende de uma política mais ativa do governo e de questões culturais mais amplas e profundas do país. “Pensando nas futuras gerações, é importante pensar no nosso papel de educadores com meninos e meninas. Comunicação não violenta, diversidade, respeito são temas que devem estar entre os jovens para um futuro melhor”, Silvana Dourado, coordenadora de Planejamento e Desenvolvimento de Pessoas da Secretaria do Planejamento e Gestão do Ceará (Seplag-CE).