A renda total de uma pessoa com ensino médio completo é de aproximadamente R$ 427 mil, de acordo com a publicação “Consequências da violação do direito à Educação”. Estimativas realizadas por pesquisadores da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) mostram que, se um aluno que tem aula com os 10% piores professores passasse a ter aula com os professores de desempenho médio, a sua renda seria 8% maior (R$ 34,4 mil) ao longo da vida profissional. O resultado está no estudo inédito que será publicado pelo Instituto Millenium nesta quarta (6), intitulado “Grandes Mestres Fazem Grandes Diferenças? – Valorizando a contribuição do Professor para o desempenho do Aluno da Educação Básica”.
Isso significa que aumentar o gasto público por estudante pode não se traduzir em um aumento no desempenho dos alunos brasileiros. Mas mensurar a qualidade dos professores e estimar seu impacto sobre o desempenho dos alunos é um importante passo no estímulo de práticas pedagógicas e de gestão educacional que, efetivamente, auxiliem na melhoria da qualidade do ensino.
O artigo, assinado por Diana Coutinho e Claudio D. Shikida – ambos da Escola Nacional de Administração Pública –, aponta que o ensino brasileiro atual, em que professores com diferentes níveis de formação e de comprometimento são tratados igualmente em termos salariais, não é um exemplo de sucesso. Assim, é crucial qualificar as “diferenças” entre professores, já que fatores como a experiência ou a certificação influenciam diretamente no desempenho dos estudantes.
“Será que a qualidade dos professores é realmente similar a ponto de os salários entre eles serem tão parecidos? O estudo nos mostra que não e também sinaliza que precisamos reconhecer e valorizar os melhores professores, inclusive financeiramente”, afirma Diana Coutinho, diretora de Altos Estudos da Enap.
Os dados mostram, ainda, que o ensino brasileiro atual não parece estar entre os melhores exemplos na comparação com outros países. O nível do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA/OCDE) – 55º-59º em Leitura, 69º-72º em Matemática, e 64º-67º em Ciências – contrasta com a posição do Brasil entre as 10 nações com maior PIB no mundo.
O artigo conclui que mensurar a qualidade dos professores e estimar seu impacto sobre o desempenho dos alunos são importantes passos no estímulo de práticas pedagógicas e de gestão educacional que, efetivamente, auxiliem na melhoria da qualidade do ensino. E, para se pensar a oferta de educação, existe a necessidade de se repensar a contribuição do professor no desempenho de seus alunos por meio de políticas baseadas no chamado valor adicionado do professor (VAP) - um tipo de gratificação por desempenho profissional.
O tema também será debatido nesta quinta-feira (7), às 12h, em mais uma edição do Millenium Talks, por meio do canal do Youtube do Instituto (https://www.youtube.com/user/institutomillenium) com a participação dos autores do estudo e representantes do Movimento Portas Abertas.