O futuro está repleto de possibilidades e, no mínimo, a pandemia da Covid-19 sinalizou que é hora de acelerar, de ir mais rápido. Para alguns, a sociedade falhou em cumprir seu potencial inovador nas últimas décadas, entregando bem menos do que se poderia esperar meio século atrás. Mas o que podemos fazer para acelerar e priorizar a inovação daqui para frente?
Em uma conversa recente com a Enap, Eli Dourado nos trouxe algumas ideias sobre tecnologia, inovação e crescimento econômico, sob a ótica da velocidade de transformação. Se você perdeu, confira os principais pontos do debate abaixo ou, se preferir, assista no nosso canal no Youtube.
1. Não estamos indo tão rápido quanto imaginamos
Brasileiro radicado nos Estados Unidos, Eli Dourado aponta que “infelizmente não estamos indo tão rápidos como pensamos”. Doutor em Economia pela George Mason University e pesquisador sênior no Center for Growth Opportunity da Utah State University, ele alerta que os avanços tecnológicos das últimas décadas “escondem” essa verdade.
Para ele, a maioria das pessoas confunde inovação, isto é, a criação, modernização ou transformação de sistemas, métodos, produtos ou serviços, com inovação tecnológica, de softwares, gadgets e aplicativos. “Se você olhar para o fator qualidade de vida em países ricos, verá que não houve muita mudança desde a década de 1970, exceto pela tecnologia da informação. O crescimento da inovação em produtividade e inovação está mais lento agora do que na metade do século XX”, disse.
2. O valor da rapidez nos transportes e o aumento da produtividade
Para falar de transportes, Eli voltou a Belle Époque, período que ocorreu entre o final do século XIX e a metade do século XX, em que muitos países europeus passaram por um intenso processo de industrialização e progresso tecnocientífico, e também com o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa e dos meios de transporte.
As inúmeras inovações tecnológicas e as inovações organizacionais resultaram em um aumento inédito da produtividade e um progresso civilizacional como nunca visto antes. Eli destacou os avanços tecnológicos nos meios de transporte, dando o exemplo do desenvolvimento da navegação marítima. “Os avanços tecnológicos nos meios de transporte, com a ampliação de seu alcance e velocidade, surgiram para atender as demanda de internacionalização e globalização”, disse.
Como resultado deste avanço e da rapidez da tecnologia, o especialista citou a Mach5, aeronave hipersônica da Boeing capaz de ligar São Paulo a Miami em apenas duas horas, proporcionando dinamismo e velocidade nos fluxos de capitais informacionais e também de pessoas. “Partindo de premissas conservadoras, a primeira geração desses hipersônicos poderiam aumentar o PIB global em US$ 4 trilhões por ano até 2030”, disse.
Os primeiros testes com protótipos do Mach5, que dependem de aprovação da Força Aérea dos Eua e potencial cliente do projeto devem começar nos próximos três anos, segundo o principal cientista da Boeing na área de aviões supersônicos, Kevin Bowcutt, em entrevista ao site Aviation Week.
3. Medir nossa velocidade de inovação pela evolução da produtividade
Eli apontou que o ritmo da velocidade é importante para inovação e a melhor maneira para medir essa velocidade é ao analisar a evolução da produtividade total dos fatores (PTF) dos Estados Unidos, que serve como parâmetro para a taxa de inovação global.
O PFT leva em conta a contribuição de todos os fatores de produção e insumos relevantes, e não apenas a contribuição do trabalho, medindo a relação entre o produto total e o insumo total. “Na vida real, podemos usar uma versão um pouco mais complexa do modelo de Solow, adicionando insumos como capital e trabalho à função de produção”, afirma.
O modelo de Solow estuda o crescimento da economia de um país em um longo período, como a acumulação de capital, o crescimento da força de trabalho e as inovações tecnológicas.
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4. Pandemia desafia governantes do mundo todo a tomar decisões em caráter de urgência
Para Eli, tomar decisões rápidas é difícil mesmo nas melhores circunstâncias. E quando se tem uma crise de incerteza como a pandemia da Covid-19, que chegou a uma velocidade avassaladora e em escala enorme, as organizações precisam tomar decisões rápidas, confiar nos formuladores de políticas públicas para tomar as decisões e se preparar para o pós bloqueio, explica.
Quando o ambiente é incerto e caracterizado por urgência e por informações imperfeitas, esperar para decidir é uma decisão que pode custar caro. Parafraseando o General George Smith Patton, do 3º Exército dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, “um plano executado agora é melhor que um plano perfeito executado semana que vem”, disse o economista.
O novo coronavírus já infectou mais de 7,2 milhões de pessoas em todo o mundo, vitimando mais de 411 mil. Por outro lado, mais de 3,3 milhões de pessoas já se recuperaram da doença. No Brasil, o número de pessoas infectadas pelo coronavírus cresceu 53% em duas semanas, com taxa de letalidade, em todo o território nacional, em torno de 5%. “É uma taxa bastante surpreendente e os números sugerem que uma necessidade de se fazer algo nos próximos 7 dias para diminuir essa taxa de crescimento”, aponta Eli.
Para ele, as medidas de lockdown servem como um "botão de pausa", mas não “como solução para o problema”. O bloqueio, na opinião dele, funciona por um curto período de tempo, mas não deve continuar por um longo tempo por dois motivos: “porque a economia sofre muito com isso e também porque as pessoas tendem a resistir e não cumprir as restrições”.
Em meio à incerteza gerada pela crise, alguns líderes têm o impulso de restringir a tomada de decisões àqueles que estão no topo, ou seja, a uma pequena parte da equipe e a portas fechadas. Eli pensa o contrário. Ele acredita que é muito importante comunicar a todos da organização os valores, para que todos estejam cientes do que está acontecendo e para saber a que velocidade ir”. “A única maneira de você ficar mais rápido é decidindo ir mais rápido”.
Sobre o programa
O Fronteiras e Tendências, programa da Enap, é focado no desenvolvimento de lideranças e altos executivos da administração pública. Formar os futuros líderes e desenvolver as habilidades e qualificações essenciais para o núcleo estratégico do Estado é o propósito do Programa de Desenvolvimento de Lideranças e Altos Executivos.
São iniciativas desenvolvidas sob medida para a alta administração, com o conhecimento aplicado à prática e em formatos dinâmicos, sem abrir mão da excelência e qualidade.
Edições anteriores do Fronteiras e Tendências
Para acessar edições anteriores, confira os temas e links abaixo:
10/06/2020: Economia Desafiada: Perspectivas para um consenso de retomada econômica - Marcos Lisboa
27/05/2020: Desafios da legalidade na gestão pública em tempos de COVID-19 - Juliana Palma
20/05/2020: Como superar a Covid-19 e restaurar a economia - Glen Weyl
13/05/2020: Os desafios e oportunidades para lideranças em tempos de crise - César Souza
06/05/2020: Como construir o mundo pós-pandemia - Jake Dunagan
29/04/2020: Covid-19: O que sabemos até o momento? - Jarbas Barbosa
22/04/2020: A importância da transformação digital nos tempos atuais - Rodrigo Galvão
29/01/2020: Governo centrado na liberdade - Tom Palmer
05/12/2019: Pensamento sistêmico e políticas públicas - Karim Chicakly
08/07/2019: Políticas públicas com base em evidências - Ricardo Paes de Barros
04/09/2019: Impactos da saída do Reino Unido da União Europeia na conjuntura global - Vijay Rangarajan
14/08/2019: Como repensar a educação - Fernando Schuler
09/08/2019: A agenda de inserção internacional da economia brasileira - Carlos Pio
16/07/2019: Liderar a partir do futuro que emerge - Otto Scharmer
24/06/2019: Gestão do amanhã - José Salibi